Planeta Copa

Arquivo : junho 2014

Argélia precisa do espírito de 82 para lutar contra seu Golias
Comentários Comente

UOL Esporte

Omar Almasri*

Uma revanche por 1982: é disso que se trata para a Argélia o confronto desta segunda-feira contra a poderosa Alemanha. A seleção conhecida como “Raposas do Deserto” (Le Fennecs, em francês) e dirigida por Vahid Halilhodzic avançou às oitavas de final desta Copa do Mundo depois de um empate contra a Rússia, feito inédito para o futebol do país e que não acontecia para uma seleção árabe há 20 anos. O que faz com que a excitação e ansiedade esteja em intensidade máxima não só para os argelinos, mas, de certa forma, para todo mundo árabe.

A Argélia é a única representante árabe a ter chegado tão longe numa Copa do Mundo, o que é um motivo de imenso orgulho para qualquer torcedor árabe. O confronto diante da tricampeã mundial Alemanha pode parecer desequilibrado no papel, mas não para aqueles familiarizados com a história deste duelo. A Argélia pode provar que não será presa fácil para um dos favoritos do torneio.

1982, o ano em que a Espanha realizou a 12ª edição da Copa do Mundo. Um torneio recheado de surpresas e decepções, como aconteceu com a anfitriã do Mundial, que teve um desempenho medíocre e que manchou um pouco a empolgação com a competição. Foi nesta Copa que a Argélia teve a sua primeira grande participação nos principais palcos do futebol mundial. Essa inexperiência fez com que muitos imaginassem que os garotos da seleção fossem mais cedo para o chuveiro. Ledo engano. A seleção argelina era uma equipe talentosa, que contava com jogadores como Rabeh Madjer e Lakhdar Belloumi, os melhores do elenco e que poderiam fazer a Argélia provocar um impacto bastante positivo.

Logo na estreia, a Argélia enfrentou a assustadora Alemanha Ocidental, uma das melhores seleções do mundo e que contava com alguns dos melhores jogadores de sua geração, como Karl-Heinz Rumenigge, Paul Breitner e Lothar Matthäus. Era um 16 de junho, e o estádio Molinón, em Gijón, recebeu 42 mil torcedores. Enfrentar uma equipe tão magnífica em um palco como aquele parecia ser uma missão dura demais para a equipe. O técnico da Alemanha, Jupp Derwall, chegou a dizer que, caso sua seleção perdesse, entraria no primeiro trem disponível para Munique. Um jogador alemão chegou a afirmar: “dedicaremos o sétimo gol para nossas mulheres, e o oitavo para os nossos cachorros”. Mas, apesar de todas as ridículas e deselegantes manifestações de desdém, Madjer e cia. fariam todos que duvidavam deles a comer uma porção de kanafeh (um famoso prato árabe).

Depois de um primeiro tempo sem gols, Madjer – que depois seguiria para o grande Porto e marcaria o memorável gol do título da equipe portuguesa na Liga dos Campeões de 1987 -, chocou a todos que estivessem assistindo ao jogo, ao colocar as “Raposas do Deserto” na frente, aos 9 minutos do segundo tempo. Rumenigge empataria para a Alemanha, mas um minuto depois, Belloumi selaria uma das maiores zebras da história . Vitória de 2 a 1, e não para a poderosa Alemanha Ocidental, mas para os subestimados, azarões, mas determinados e talentosos jogadores da Argélia. Um resultado que viverá por muito tempo na memória de qualquer argelino ou árabe em geral, mas que perderia o seu sentido apenas uma semana depois.

Um dia depois que a Argélia venceu o Chile por 3 a 2, Alemanha Ocidental e Áustria se enfrentaram. Sendo que a Copa de 1982 era disputada de forma que as duas últimas partidas de cada grupo da primeira fase não eram realizadas simultaneamente e as vitórias valiam dois, e não três pontos, alemães e austríacos foram para o jogo sabendo que uma vitória da Alemanha por um ou dois gols classificaria ambos, eliminando a Argélia. O ponto de partida para que ocorresse um dos jogos mais infames e escandalosos da história das Copas: a “Desgraça de Gijón”.

Assim que o jogo começou, a Alemanha Ocidental se atirou ao ataque e conseguiu um gol aos 10 minutos, com o atacante Horst Hrubesch. Depois disso e até o final, porém, as duas equipes ficaram apenas passando a bola de um lado a outro sem a menor intenção de atacar o seu adversário. Mas o que estava acontecendo ficou logo muito claro para quem estava assistindo a partida: aquilo era um esquema pré-concebido para que as duas seleções se classificassem, em detrimento da Argélia. Um jogo que deixará a infâmia marcada para sempre, tanto que até torcedores alemães queimaram a bandeira nacional, tamanha a frustração e decepção com o que ocorrera. O jogo havia terminado logo aos 10 minutos do primeiro tempo, e a Argélia estava eliminada da Copa.

Aqueles que acompanharam a Copa do Mundo ao longo dos anos passaram a saber que aquilo, um momentos mais baixos e lamentáveis da competição, e os argelinos – especialmente os que estiveram em campo naquele dia – nunca se esqueceriam do que se passou em Gijón.

“Alemães e austríacos obviamente jogaram para assegurar que nós (argelinos) não avançássemos, e agora o time atual tem a chance de nos dar uma revanche”, afirmou o meia Lakhdar Belloumi ao jornal inglês “The Guardian”. “O que aconteceu não irá pressioná-los, vai, sim, inspirá-los”. Para os argelinos, é um jogo de revanche e retribuição para o que lhes foi tirado a força há 32 anos.

Assim como ocorreu naquela ocasião, as “Raposas do Deserto” vão como azarões para o confronto contra um gigante e favorito. Mas como a Argélia de 1982, a atual seleção possui jogadores talentosos que não podem ser subestimados, como a estrela Sofiane Feghouli, do Valencia, e Yasine Brahimi, o coração da equipe, que têm a companhia do grande Islam Slimani, que com sua cabeçada contra a Rússia levou a equipe adiante na Copa. Além do enérgico zagueiro Faouzi Ghoulam e o promissor Nabil Bem Taleb, do Tottenham.

Jogadores talentosos que vão encarar um hercúleo desafio contra uma equipe que tem estrelas consagradas como Ozil, Lahm e Müller. Mas assim como seus antecessores fizeram, grandes nomes não importam muito no futebol. Coração, coragem e determinação podem superar eventuais deficiências, e isso esta Argélia tem em abundância. Tudo o que eles precisam é olhar para trás e resgatar o espírito dos jogadores de 1982. Lutar contra quem foi o Golias do seu passado. Se eles forem fundo, o impossível poderá se tornar possível. É preciso o espírito daquele time, a determinação de 1982. Se eles conseguirem isso, a poderosa Alemanha terá uma briga dos infernos em suas mãos.

*Omar Almasri é jornalista jordaniano-palestino e já colaborou com o The New York TImes, Al Jazzera, Oman Times, Sabotage Times e FourFourTwo.com.


Um país está por trás do Chile. Mas, na frente, está o Brasil
Comentários Comente

UOL Esporte

*O Carteiro da Ilha Negra

Falar do Brasil para os chilenos é quase como se aparecesse uma fera no caminho. E se o jogo é num Mundial, pior ainda. É caso de se olhar o passado. Em 1962, o Chile organizou a Copa do Mundo. Nas semifinais, todo o país estava esperançoso. À frente estava a seleção brasileira. O balde de água fria não demorou: o “Scratch” ganhou por 4 a 2 para, depois, terminar como o melhor da Copa, enquanto o Chile teve que se conformar com o terceiro lugar.

Em 1998 os chilenos voltaram à Copa após 16 anos. A expectativa era enorme. Milhares e milhares de compatriotas viajaram à França para ver o time liderado pelos artilheiros Marcelo Salas e Iván Zamorano. Invicto na fase de grupos, com direito a um polêmico empate contra a Itália na estreia, o Chile acabou tendo que enfrentar o Brasil nas oitavas de final. O sonho parou ali: 4 a 1 para Ronaldo e companhia.

A história se repetiu na África do Sul. O Chile estava nas mãos do argentino Marcelo Bielsa e de uma geração que não cedia ao impossível. Uma eliminatória muito boa fez com que os chilenos tivessem esperança de avançar na Copa. Mas o sorteio dos grupos mais uma vez colocou o Brasil no caminho da ‘Roja’. A história, mais uma vez, não teve um final feliz para os chilenos: 3 a 0 para o Brasil.

Neste sábado o Chile terá uma nova oportunidade. Talvez o cenário não seja o melhor. O Brasil joga em sua casa, com um Neymar inspirado e com o objetivo de ganhar o Mundial. Mas o Chile já fez história vencendo pela primeira vez a Espanha e, de quebra, eliminou o atual campeão.

Bravo, Medel, Vidal, Sánchez e Vargas cresceram sonhando ser campeões do mundo. E eles acreditam de verdade. Para eles não existem triunfos morais. Tampouco derrotas honrosas. O verbo que conjugam desde que estão concentrados em Belo Horizonte é triunfar.

Eles carregam em suas costas a esperança de milhões e milhões de chilenos. E estão decididos a esculpir uma obra que sem dúvida poderá levá-los ao ponto mais alto da história do futebol chileno. Todos um país está por tras deles. O problema? Na frente está o Brasil, embora a confiança de um país inteiro é que a quarta vez será a da vitória.


O que pode ligar Cristiano Ronaldo a Pelé? A história de Morais
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Luís Aguilar

Estamos na Copa do Mundo de 1966, em Inglaterra. As seleções de Portugal e Brasil se enfrentam na última rodada da fase de grupos. Os brasileiros precisam vencer para passar à fase seguinte e todos aguardam um grande duelo entre Eusébio e Pelé. Mas o jogo fica marcado por outro duelo. Entre Pelé… e Morais. O jogador do Sporting tinha a missão de marcar o “Rei”. Perseguiu-o por todo o campo sem deixá-lo respirar. Até ao momento fatídico…

“Foi uma jogada normal e eu tive a infelicidade de estar atrás dele. O nosso capitão [Coluna] disse-me para não o largar, para não o deixar passar. Era um jogo entre seleções e eu era português. Olhando para trás, reconheço que tinha poucas alternativas. Pareceu-me ver a bola e estiquei a perna. Sim, talvez tenha sido em tesoura. Mas nada de anormal. Nada que não se faça hoje muito pior”, lembrou Morais numa entrevista ao jornal português “Record”, em 2000, dez anos antes de falecer.

A verdade é que aquele lance imortalizou Morais na história do futebol como o homem que quebrou o “Rei”. Muitos torcedores brasileiros garantem que a seleção de Eusébio apenas ganhou aquele jogo porque Morais lesionou Pelé, mas quem estava em campo tem outra versão.

“Pelé deixou Morais sem sentidos”

José Augusto, velha ídolo do Benfica, foi um deles. Falei com ele para me contar o que se tinha passado. Não tem dúvidas em afirmar que a história sempre foi mal contada por Pelé e pelos brasileiros: “O Morais não lesionou o Pelé na Copa do Mundo de 1966. O Pelé já vinha lesionado do Brasil. Eles tentaram recuperá-lo, aos poucos, como nós estamos agora a tentar fazer com o Cristiano Ronaldo, mas nunca conseguiram. Vimos o que ele fez nos jogos anteriores e percebíamos que não era o Pelé que nós conhecíamos. Notava-se que não estava bem.”

Augusto também lembra que Pelé tinha levado uma pancada forte no jogo de estreia, quando o Brasil venceu a Bulgária, e ficou ainda pior. “Com o Morais foi um lance de bola dividida, perfeitamente normal. E sem intenção. Daqueles em que quem chega primeiro à bola, leva cacetada. O Pelé chegou primeiro e foi tocado.” O resto, para Augusto, são “desculpas de quem perde”. “Eles dizem que foram derrotados apenas por causa do lance entre o Morais e o Pelé, mas quando isso aconteceu já estávamos a ganhar por 2 a 0.”

À época não se podiam fazer substituições – as mesmas só foram introduzidas na Copa de 1970 – e Pelé voltou ao jogo sem ser capaz de lutar pela virada, mas pronto para acertar contas com o seu marcador direto, como recorda Augusto. “Deu uma cacetada na cara do Morais e deixou-o sem sentidos. Foi vingativo!”

“Te mato, veado!”

O próprio Morais lembrou esse momento por diversas ocasiões. Assim que Pelé caiu, terá feito a ameaça ao defesa português: “Te mato, veado.” Quando voltou ao jogo, quis cumprir a promessa: “Ele disse-me que me iria golpear e o fez. Nunca se sabia de que lado vinha e só me lembro de receber uma cabeçada no maxilar que me fez desmaiar. Fiquei deitado e sem sentidos durante alguns segundos e a primeira coisa que disse foi ao senhor Manuel Marques [massagista] para ver se ainda me restavam os dentes.” Estava tudo no lugar. Morais conservou a dentadura e Portugal venceu o Brasil por 3 a 1, com dois gols de Eusébio e um de Simões.

Mas essa não foi a única aventura de Morais na Copa de Inglaterra. Quem o conheceu diz que era um verdadeiro personagem. Sempre divertido e esperto diante das oportunidades de negócio. Foi o que fez nessa Copa: “Antes do jogo de estreia, contra a Hungria, o Morais calçou uma chuteira de cada marca para poder receber dinheiro de ambas. Primeiro, fechou acordo com a Puma. Depois, acertou tudo com a Adidas. Só reparei no vestiário, depois do jogo. E a verdade é que ele safou-se. Recebeu dos dois lados.”

No Brasil, Morais ficou conhecido como o jogador que lesionou Pelé em 1966. Mas, em Portugal, é lembrado por um momento diferente. Foi o autor do gol com que o Sporting venceu o MTK de Budapeste na final da Recopa de 1964. Até hoje, esse é o único título europeu do clube. O momento de inspiração ficou para sempre conhecido como “o cantinho do Morais”. Uma forma bem mais bonita de ser recordado.

Luís Aguilar é um jornalista e escritor português. Tem trabalhado em diversos jornais, revistas e televisões, destacando-se o jornal português Record, Correio da Manhã, revista Sábado, Playboy, CMTV e SIC. Também é autor de vários livros sobre futebol, entre os quais o recente “Jogada Ilegal”, sobre a corrupção na FIFA. No Twitter, @LuisAguilar__


Parece que é pedir muito para a Alemanha vencer no Brasil
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Susie Schaaf*

Quando o Grupo G foi anunciado – Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Gana -, muitos o consideraram difícil para os alemães, mas totalmente administrável. O consenso no país não era “será que a ‘Mannschaft’ vai passar?”, mas sim quem passaria em segundo lugar, atrás dela. Mas, depois que tantos jogadores-chave perderem sua posição por estarem lesionados ou recém-recuperados, Joachim Löw assume o leme de seu quarto grande torneio com opções perigosamente escassas em algumas posições muito importantes.

Só Miroslav Klose, da Lazio, foi convocado na função de autêntico atacante. E o veterano Klose, de 35 anos, perdeu muitos jogos da temporada da Série A, só conseguindo fazer oito gols e cinco assistências.

Não quer dizer que Klose tenha perdido o rebolado, mas a marcha inevitável do tempo o está alcançando. Com o mesmo número de gols marcados pela Alemanha que o “der Bomber” Gerd Mueller – 68 – ele está apenas a dois de ultrapassar o recorde do brasileiro Ronaldo pela seleção brasileira. Löw está assumindo um risco ao incluí-lo, mas a recompensa – caso o veterano consiga jogar – será espetacular.

Se estivéssemos falando apenas da posição de atacante, talvez não fosse um problema muito grande, mas olhando um pouco mais atrás, é lá onde estão os verdadeiros problemas que, sanados, serão soluções fantásticas. Lahm, Schweinsteiger e Khedira se recuperaram fisicamente ou de lesões apenas durante a fase de preparação. Sem um deles, a Alemanha começaria com Toni Kroos, do Bayern de Munique, e Christoph Kramer, do Borussia Moenchengladbach, no meio campo. O primeiro não tem uma verdadeira mentalidade de defesa, enquanto o último tem apenas um jogo pela seleção.

Minimizando a possível perda de jogadores-chave, Löw e o diretor geral Oliver Bierhoff preferiram instituir uma necessidade de “espírito de equipe”. Eis um exemplo: na concentração na Bahia, local de treinamento no Brasil, os jogadores ficarão em seis em cada quarto – promovendo a camaradagem na delegação.

“Sempre que vamos a um torneio chegamos lá com a intenção de ganhar, independentemente da situação da equipe”, disse Löw em entrevista recente. E parece que neste momento as peças-chave Neuer, Lahm,  Khedira e Schweinsteiger estão prontos para contribuir.

A revolução da Alemanha até chegar a seu estilo moderno de futebol começou em 2000, depois que a seleção foi chutada da Eurocopa naquele verão em um grupo que tinha a Inglaterra, Romênia e Portugal. E embora ela tenha chegado à final da Copa do Mundo de 2002 contra o velho inimigo Brasil – perdendo de 2 a 0 – mudanças amplas em todo o seu sistema futebolístico estavam em andamento. Essas mudanças ainda não dariam frutos na Eurocopa de 2004, quando a Alemanha foi novamente mandada para casa depois da etapa dos grupos com a República Tcheca e a Holanda à sua frente, mas as coisas começaram a mudar para a seleção alemã em 2006.

Talvez isso tenha se dado porque a Alemanha era anfitriã do torneio, ou talvez porque o técnico na época, Juergen Klinsmann, com seu assistente Löw, tomaram decisões ousadas em relação à equipe nos dois anos anteriores, mas a jovem seleção alemã – que ninguém achava que faria alguma coisa – conseguiu ficar em terceiro.

A Eurocopa de de 2008 viu a Alemanha perder por pouco da Espanha, 1 a 0, na final, e mais uma vez dois anos mais tarde na semifinal na África do Sul, eventualmente ficando em terceiro lugar. O ano de 2012 teve a Alemanha no mesmo terceiro lugar depois de perder a semifinal para a Itália.

Embora o sistema juvenil da Alemanha esteja firmemente estabelecido – com muitos jovens talentosos fazendo carreira, prontos para assumir os lugares dos mais velhos ou mal condicionados, a Copa de 2014 no Brasil deveria ter sido o momento para a Alemanha brilhar. E ainda pode ser, se Löw conseguir encontrar uma forma de unir sua equipe de jovens talentosos e veteranos lendários. Mas isso é pedir muito jogando na América do Sul — onde nenhuma equipe europeia venceu um torneio — e no Brasil… contra o Brasil e a seleção empolgante de Luiz Felipe Scolari.

Susie Schaaf é jornalista alemã e escreve para o ESPN FC, BBC e outros veículos especializados em futebol.


É hora de Messi se tornar um herói argentino
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Fernando Moura*

“Pai! Olha o Messi!”. Esta foi a frase mais instigante de 15 dias em Buenos Aires antes da Copa acompanhando a esposa em reportagem. A minha filha, 3 anos e pouco, brasileira, esteve uns dias na capital portenha e não escapou da super-exposição do 10 da seleção argentina, tanto que já reconhece a Lionel Messi.

Assim, há poucos dias do início do Mundial, Buenos Aires e as grandes cidades da Argentina começam a vestir-se de “celeste y blanco”. Aos poucos as discussões sobre os motivos pelos quais Alejandro Sabella, técnico da equipe argentina não convocou a Carlitos Tevez, da Juventus, vão ficando para trás e em bares, restaurantes, cafés, escolas, escritórios, esquinas, o que se pensa, se fala, se gesticula e prognostica neste momento é como será a estreia no Mundial contra a Bósnia no mítico Maracanã.

Como já falamos no Planeta Copa, a Copa sem Maradona, mas no Brasil, tem condimentos, e muitos. Os mais novos andam, apesar do frio intenso, com a camisa do Messi e muitos já penduraram bandeiras nas janelas, colocaram autocolantes nos carros e lojas. As ruas de Buenos Aires têm Lionel Messi em todo lado, parece onipresente, aparece em outdoors de venda de aparelhos de TV, telefones, roupa esportiva, e até o avião que levará ao time até o Brasil foi pintado com as cores da seleção e foi estampada a cara do ídolo. Segundo os teóricos da comunicação, os publicitários argentinos perderam a criatividade, segundo os mais jovens, isso acontece – simplesmente – porque Messi é o melhor do mundo.

Mas o ídolo Messi é um ídolo diferente, porque por estas terras não é um ídolo indiscutido, unânime. Como em quase tudo, os argentinos divergem os dizeres sobre o “baixinho” que saiu de Rosário, província de Santa Fé, quando era um moleque para se curar de um problema de crescimento em Barcelona, Espanha, e lá ficou, se fez homem e o melhor jogador do mundo em várias ocasiões.

Para os argentinos, o Lionel Messi é um grande jogador, a questão é saber se ele, a diferença do mítico Maradona, sente realmente a “camisa”. Se ouve em todo lado, “Messi precisa jogar na Argentina para entender o rigor do jogo e depois ser o melhor do Mundial”.

Para o argentino, ganhar é importante. Mas, mais importante ainda – e isso deve-se a uma herança italiana – é que o jogador corra, transpire, se jogue no chão, tenha garra e, sobretudo, amor às suas cores. E nisso o Messi criado na Catalunha é diferente, tão diferente como quando pega a bola e a coloca junto ao pé, nesse momento parece que a bola está colada na chuteira.

Nos treinos abertos aos jornalistas em Ezeiza, na pré-temporada que a Argentina está realizando para o Mundial, vimos o Messi franzino e baixinho fazer coisas diferentes, únicas, e até “sobrenaturais”, como se atreveu a dizer o defensor do Barcelona Mascherano na primeira coletiva da seleção, “estamos falando de um jogador que nos acostumou nos últimos cinco anos a fazer coisas sobrenaturais”, por isso falam tanto da defesa argentina, porque ele “é diferente, faz coisas que ninguém faz nem fez”. Dias mais tarde, Demichelis (Manchester City) disse sorrindo, “não há nenhum Messi na defesa”.

E parece ser verdade, não sei se é sobrenatural, o que está claro é que é diferente, bonito, uma estranha forma de carinho pela bola. Mas muitos, entre os quais estou incluído, nos perguntamos se será este o Mundial da consagração, não como jogador, ele faz parte do planeta bola, mas sim da consagração interna, nacional, no seu país, na Argentina, no “potrero” onde os moleques correm com a camisa argentina com o seu nome estampado.

Quando a seleção argentina entrar em campo no domingo, 15 de junho, às 19h, será um dia especial, como disse há mais de duas décadas o slogan de uma rádio argentina: “Hoje não é um dia qualquer, hoje joga a seleção”. Por isso, as famílias argentinas se reunirão em frente à TV para ver o seu “país” jogar. E será pela TV.

Mas antes, muitos argentinos terão passado um dia em família, porque no país se comemora nesse domingo o “dia dos pais”, e como já ouvimos várias vezes nos últimos dias, o melhor “presente” seria um triunfo e estar no Maracanã. No mítico estádio haverá alguns argentinos, os que conseguiram ingressos em concursos – houve muitos – na venda tradicional ou na candonga e revenda, se fala de até 10 mil pesos (aproximadamente R$ 3200).

O que resta saber é se o Messi fará alguma coisa “sobrenatural” que o catapulte definitivamente como um herói argentino ou será mais um Mundial para o jogador. É uma dúvida, tomara se faça realidade e, no fim, a “Pulga” brilhe no campo do vizinho, do inimigo, da sogra. Até onde e em que campos pode brilhar, ainda é prematuro saber, mas já se sonha no país que no Maracanã (Bósnia), Mineirão (Irã) e Beira Rio (Nigeria), alguma coisa “sobrenatural” saia dos seus pés.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVargentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Copa não é lá um ambiente muito confiável para contratar jogador
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Duncan Castles*

O Real Betis bateu o recorde mundial de 31 milhões de euros da época para comprar Denilson do São Paulo logo depois da Copa do Mundo de 1998. O Liverpool sacou 15 milhões de libras de sua conta bancária pelos jogadores internacionais do Senegal El Hadji Diouf e Salif Diao, enquanto Sir Alex Ferguson esbanjou 6,5 milhões de libras do Manchester United com Kleberson após a Copa da Coreia-Japão em 2002. O Tottenham Hotspur se convenceu de que era uma boa ideia concordar com uma taxa de transferência de 8,3 milhões de euros por Didier Zokora depois que ele impressionou jogando pela Costa do Marfim em 2006. Quatro anos mais tarde foi Sunderland que entregou um cheque de 13 milhões de libras para Asamoah Gyan, o centroavante que liderou Gana até às quartas de final na África do Sul.

Um olheiro experiente gosta de contar a história de quando o Barcelona recrutou Rustu Recber, considerado o melhor goleiro da Copa do Mundo de 2002 e contratado apenas pela força de seu desempenho no torneio. Depois da chegada de Rustu na Catalunha, o técnico de goleiros do Barça logo concluiu que a técnica do turco era fundamentalmente falha. A carreira do jogador na liga espanhola durou apenas quatro jogos.

Qual é o denominador comum de todas essas aquisições de Copa do Mundo? Grandes quantias de dinheiro gastas em indivíduos que pareciam fantásticos no ambiente rarefeito – e sob muitos aspectos atípicos – do mês de extravagância do futebol. E decepções similares com o desempenho de cada um deles para seus novos empregadores depois que terminou a farra quadrienal.

À medida que o recrutamento de jogadores se tornou mais científico, com a maioria dos grandes clubes expandindo seus departamentos de olheiros, acrescentando análises de dados a essa avaliação e o julgamento de experiências de anos anteriores, a Copa do Mundo diminuiu em importância como mercado. Os principais clubes da Europa aprenderam acima de tudo que comprar por impulso depois de um dos torneios esportivos mais populares do planeta não é a estratégia mais confiável.

Na Inglaterra, o Arsenal abriu caminho na sistematização dos olheiros, extraindo um valor significativo do mercado de transferências, usando as habilidades de uma rede com cerca de 80 indivíduos. Nenhum deles viajará para o Brasil para assistir à Copa do Mundo no mês que vem.

Arsene Wenger estará no Brasil, combinando o comentário televisivo com uma rara oportunidade de assistir a um torneio internacional pessoalmente, mas ele considera enviar seus olheiros bem treinados para a Copa do Mundo uma perda de tempo e dinheiro. Sua equipe de tempo integral está focada em torneios internacionais mais produtivos, viajando em grupos de dois ou três para campeonatos sub-17 na América do Sul, por exemplo, onde os olheiros podem ver os jogadores pela primeira vez – e de preferência antes de outros clubes europeus. O Arsenal já tem relatórios sobre cada jogador convocado para a Copa do Brasil 2014.

O Chelsea, que vem se especializando em adquirir talentos globais, terá uma presença física no torneio, mas não espere que isso altere os planos de recrutamento de verão da equipe. Como o modelo do Arsenal que eles tentaram imitar, o princípio é ter estudado cada jogador muito antes de ele ter sido selecionado para uma Copa do Mundo.

Os clubes da Premier League com redes de olheiros menos desenvolvidas veem “a segurança e a viagem como principais preocupações” e têm dificuldades de enxergar o valor dos pacotes corporativos para olheiros que podem custar mais de mil libras por dia. Enquanto alguns comparecerão, a solução padrão será monitorar os jogos em vídeo em combinação com estatísticas detalhadas de rendimento individual ao estilo ProZone lançadas na Copa do Mundo da África do Sul, há quatro anos.

“Para mim, Brasil 2014 é uma perda de tempo e dinheiro”, diz um dos principais olheiros europeus. “O país já é caótico sem uma Copa do Mundo. Com a Copa do Mundo, ficará pior. Levará horas para ir e voltar dos jogos. Haverá protestos, haverá violência, haverá assaltos.”

Se a era em que a Copa do Mundo era uma oportunidade para identificar novos talentos acabou, este torneio terá outro tipo de impacto no mercado de transferências. Os jogadores ainda não estão renovando contratos na esperança de que jogar uma boa Copa do Mundo possa aumentar seu valor de mercado. Os clubes que estão vendendo seus talentos preciosos subirão o preço com base nos desempenhos que chamarem a atenção.

Se você é o um jogador de futebol, a Copa é o melhor lugar para se estar. Mas se você é um olheiro de um dos clubes de elite da Europa, a Copa do Mundo mal se classifica.

*Duncan Castle é jornalista esportivo e escreve para  The Sunday Times, Sports Illustrated, Champions magazine, Goal, ONE World Sports, entre outros veículos.


Portugal tenta moderar seu pessimismo para o Mundial
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Sérgio Ferreira de Almeida*

Pode parecer o início de uma bela piada, mas aconteceu mesmo: estava eu, português, jantando com um inglês, um francês, um alemão e um espanhol, todos jornalistas especializados em futebol, e o tema de conversa era o Mundial do Brasil. Falou-se da qualificação e de quem está mais preparado para vencer a Copa.

O inglês não está muito confiante num bom resultado, aliás como tem acontecido nos últimos anos. O francês, por natureza grande defensor do país, desta vez também não está muito convencido da qualidade do futebol dos gauleses. O alemão, mais reservado, não quer parecer muito otimista e não faz grandes prognósticos. O espanhol acredita que os atuais detentores do título mundial e europeu vão chegar à final com o Brasil!

Dos portugueses, todos esperam que passem a fase de grupos, mas não acreditam que Cristiano Ronaldo e companhia tenham chance de chegar muito mais longe. Esse sentimento não é muito diferente em Portugal. Desde que Paulo Bento assumiu o comando da equipe que o país se habituou a não esperar muito. Não é um treinador que crie muitas expectativas, não é alguém que transmita muito entusiasmo quando fala aos torcedores. Mas também não podemos esquecer que depois de Scolari, que é um verdadeiro mestre na arte de mover multidões, nenhum treinador foi capaz de envolver tanto o país no espírito da seleção nacional.

De qualquer forma, nos últimos dias a euforia e o otimismo aumentaram. O ranking da Fifa foi divulgado e a seleção portuguesa está atrás apenas de Espanha, Alemanha e Brasil. E queira ou não há um entusiasmo que cresce quando se vê a equipa nacional tão bem classificada.

Mas também é neste momento que surge o lado mais pessimista dos portugueses: nas conversas de café há sempre um especialista de bola que vai lembrar que este quarto lugar no ranking Fifa ainda não se traduziu em qualquer título, pelo menos na seleção principal. Há sempre alguém que faz questão de recordar que a classificação para a Copa do Mundo do Brasil foi bem mais difícil que o inicialmente previsto. O passaporte para Mundial só foi carimbado depois de muito sofrimento, na repescagem contra a Suécia de Ibrahimovic. A alegria foi enorme no final da partida, mas não apaga da memória recente os empates com Israel e os jogos difíceis contra a Irlanda do Norte e o Azerbeijão nas eliminatórias.

Agora, se bem conheço o meu povo, acredito que no fundo, bem lá no fundo, quase todos, mesmo os mais pessimistas, alimentam a secreta esperança de que os jogadores portugueses se superem e façam uma Copa do Mundo excepcional, empurrados pelo grande motor do grupo, um Cristiano Ronaldo que está fazendo uma grande temporada.

*Jornalista português, Sérgio Ferreira de Almeida trabalha há 10 anos para a SIC, televisão privada de Portugal. Há três anos colabora com a Euronews, canal internacional de informação.


O ‘clima’ de Copa está chegando, mas e os protestos?
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Tim Vickery

Eu fui do Rio para Londres três semanas antes do início dos Jogos Olímpicos de 2012. Ao chegar, a cobertura do evento não poderia ser mais negativa; a arrogância do COI (Comitê Olímpico Internacional), suas faixas de trânsito especiais para os VIPs e o fato de pequenos comércios não poderem usar o logo dos anéis olímpicos; nos jornais, não havia outras coisa a não ser reclamações.

O clima começou a mudar quando a tocha olímpica fez uma viagem por vários bairros de Londres. As pessoas começaram a se sentir parte daquilo. Os londrinos começaram a sentir que a Olimpíada era deles – um sentimento que se fortaleceu ainda mais e ganhou uma dimensão nacional com a incrível e peculiar cerimônia de abertura de Danny Boyle.

Galvão Bueno pode não ter ficado perplexo com ela, mas esse não é o ponto. A cerimônia não era exatamente para ele. Ela fez com que os locais se sentissem representados, e preparou terreno para a capacidade do evento em trabalhar sua magia ao longo das duas semanas seguintes.

Leia a matéria completa no UOL Copa do Mundo


Todos no Chile rezam pela recuperação de Vidal
Comentários Comente

UOL Esporte

* O Carteiro da Ilha Negra

Muitos dos fanáticos torcedores da seleção chilena sequer devem ter ouvido falar no clube de futebol “Rodelindo Román”. É um time da comunidade de San Joaquín, em Santiago, que tem cerca de 60 anos e serve para que muitos jovens e meninos tenham uma via de escape, pelo menos momentânea, para os problemas que assolam uma região onde os recursos econômicos são escassos.

A camisa do “Rodelindo Román” foi a primeira usada por Arturo Vidal, hoje a figura máxima do futebol chileno. Talvez por isso são seus torcedores e jogadores os que mais sofrem com as notícias sobre o volante da Juventus.

Olhando para trás, a tragédia começou a ser escrita no final de março, quando o volante teve de abandonar a partida contra o Napoli por causa de uma dor em um dos joelhos. Muito se especulou, a poucas semanas da Copa do Mundo, sobre o verdadeiro estado da estrela da “Roja”. A esperança voltou quando ele vestiu a camisa da “Juve” para participar da semifinal da Liga da Europa. No entanto, alguns dias depois a notícia conhecida abalou todo o meio futebolístico: Vidal tinha de ser operado.

Em 7 de maio passado, em Barcelona, se realizou a cirurgia. O objetivo? Que Vidal chegue 100% recuperado ao evento no Brasil.

Não é preciso ser adivinho para saber que a incerteza tomou conta da grande maioria dos chilenos. Uma operação desse tipo, segundo muitos médicos, deveria ter uma recuperação de pelo menos um mês e meio, o que eliminaria o meio-campista da disputa da Copa.

Sua fé, e a de milhões e milhões de compatriotas, convidam à esperança. Vidal é fundamental no esquema de Jorge Sampaoli. Não é por acaso que o Chelsea, o Real Madrid, o Manchester United e o Barcelona estão de olho nele. A resposta da Juventus não demorou. Quem quiser ter o polivalente jogador deve desembolsar US$ 70 milhões.

A esta altura, pouco importa aos chilenos a futura equipe de Vidal. As orações são dirigidas a outro objetivo: que se recupere e seja o destaque que todos esperam no Brasil 2014.

*O Carteiro da Ilha Negra, pseudônimo do jornalista chileno que analisa a Copa 2014 para o UOL Esporte, é uma referência a Mario Jiménez, personagem da obra “O Carteiro e o Poeta”.


Irã carrega orgulho persa e rara chance para sua população
Comentários Comente

UOL Esporte

Nima Ghadakpour*

Após três semanas de discussão e votação, os iranianos escolheram “O orgulho da Pérsia” como slogan da sua seleção que vai disputar a Copa do Mundo no Brasil. É um slogan que tem suas raízes nos conflitos regionais.

Os iranianos, cercados pelos países árabes do Golfo Pérsico, se sentem isolados e ameaçados pelos vizinhos. Consequentemente, o futebol, além de uma mera competição esportiva, se torna uma arma para mostrar superioridade nacional sobre os adversários regionais.

Foi por isso que mais de 300 mil iranianos votaram nesse slogan, “O orgulho da Pérsia”, ainda mais este ano, quando o Irã será o único país do Oriente Médio presente no Brasil. Seu principal adversário regional, a Arábia Saudita, que costuma ir aos Mundiais, foi eliminado.

Lendo a maior parte dos jornais não oficiais no Irã, constata-se um ponto em comum: este ano os persas vão participar da Copa do Mundo em nome de todos os países árabes muçulmanos da região, cuja tarefa é duas vezes mais difícil para os jogadores. Jogadores que, assim como a maior parte dos iranianos comuns, não pensam representar o mundo muçulmano, mas que ainda assim querem brilhar e mostrar que o Irã é um país de futebol e que tem uma história nesse contexto.

Desde sua primeira partida oficial, em 1941, contra o Afeganistão, a seleção iraniana evoluiu muito. Além disso, esta é sua quarta participação em Copas do Mundo, sabendo que durante oito anos de guerra entre Irã e Iraque o país foi privado de participar das eliminatórias para as Copas de 1982 e 1986. Após esse período de guerra, o país participou de duas Copas do Mundo: a de 1998, na França, e a de 2006, na Alemanha.

Assim como boa parte do mundo, os iranianos têm um carinho especial pelo Brasil quando se fala em futebol. Em sinal desse reconhecimento, alguns clubes iranianos escolheram a cor amarela para suas camisas oficiais. Apesar da distância entre o Irã e o Brasil, a crise econômica e as restrições de vistos, o número de iranianos que compraram ingressos para as três primeiras partidas de sua equipe é impressionante. Basta ligar para as agências de viagem de Teerã para perceber que já há muito tempo os ingressos para as partidas foram vendidos. Como diz Carlos Queiroz, português que é técnico do Irã, “o entusiasmo pelo futebol no Irã não tem limites”.

É um sonho para os fãs verem sua equipe jogar no Brasil, mas eles são realistas. Segundo a última pesquisa de opinião feita pelo “90”, o programa de TV mais visto do país, dedicado inteiramente ao futebol, mais de um milhão de iranianos acreditam que o Team Melli, a equipe nacional, não vai se classificar para a segunda fase. O Irã irá enfrentar a Argentina, a Nigéria e a Bósnia. No entanto, a equipe nacional iraniana é a melhor seleção da Ásia no último ranking mundial da Fifa, à frente de sua adversária africana, a Nigéria.

Em compensação, os iranianos esperam de sua equipe que ela se mostre unida, que lute até o fim e que não se desarme rapidamente diante de uma equipe como a Argentina. Afinal, os iranianos querem que sua equipe surpreenda, não necessariamente para se classificar, mas para que no Brasil toda a mídia mundial fale de seu país de forma que o tema do futebol supere o da crise nuclear e dos desentendimentos com a comunidade internacional.

Ao mesmo tempo, uma vitória do Irã daria aos iranianos uma rara ocasião para que eles saíssem às ruas das grandes cidades do país. São raras as ocasiões para os iranianos ocuparem as ruas, seja para manifestar alegria ou descontentamento. A Copa é a maior chance disso.

* Nima Ghadakpour é jornalista iraniano e colabora com vários veículos internacionais, entre eles o Euronews.com


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>