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Irã carrega orgulho persa e rara chance para sua população

UOL Esporte

Nima Ghadakpour*

Após três semanas de discussão e votação, os iranianos escolheram “O orgulho da Pérsia” como slogan da sua seleção que vai disputar a Copa do Mundo no Brasil. É um slogan que tem suas raízes nos conflitos regionais.

Os iranianos, cercados pelos países árabes do Golfo Pérsico, se sentem isolados e ameaçados pelos vizinhos. Consequentemente, o futebol, além de uma mera competição esportiva, se torna uma arma para mostrar superioridade nacional sobre os adversários regionais.

Foi por isso que mais de 300 mil iranianos votaram nesse slogan, “O orgulho da Pérsia”, ainda mais este ano, quando o Irã será o único país do Oriente Médio presente no Brasil. Seu principal adversário regional, a Arábia Saudita, que costuma ir aos Mundiais, foi eliminado.

Lendo a maior parte dos jornais não oficiais no Irã, constata-se um ponto em comum: este ano os persas vão participar da Copa do Mundo em nome de todos os países árabes muçulmanos da região, cuja tarefa é duas vezes mais difícil para os jogadores. Jogadores que, assim como a maior parte dos iranianos comuns, não pensam representar o mundo muçulmano, mas que ainda assim querem brilhar e mostrar que o Irã é um país de futebol e que tem uma história nesse contexto.

Desde sua primeira partida oficial, em 1941, contra o Afeganistão, a seleção iraniana evoluiu muito. Além disso, esta é sua quarta participação em Copas do Mundo, sabendo que durante oito anos de guerra entre Irã e Iraque o país foi privado de participar das eliminatórias para as Copas de 1982 e 1986. Após esse período de guerra, o país participou de duas Copas do Mundo: a de 1998, na França, e a de 2006, na Alemanha.

Assim como boa parte do mundo, os iranianos têm um carinho especial pelo Brasil quando se fala em futebol. Em sinal desse reconhecimento, alguns clubes iranianos escolheram a cor amarela para suas camisas oficiais. Apesar da distância entre o Irã e o Brasil, a crise econômica e as restrições de vistos, o número de iranianos que compraram ingressos para as três primeiras partidas de sua equipe é impressionante. Basta ligar para as agências de viagem de Teerã para perceber que já há muito tempo os ingressos para as partidas foram vendidos. Como diz Carlos Queiroz, português que é técnico do Irã, “o entusiasmo pelo futebol no Irã não tem limites”.

É um sonho para os fãs verem sua equipe jogar no Brasil, mas eles são realistas. Segundo a última pesquisa de opinião feita pelo “90”, o programa de TV mais visto do país, dedicado inteiramente ao futebol, mais de um milhão de iranianos acreditam que o Team Melli, a equipe nacional, não vai se classificar para a segunda fase. O Irã irá enfrentar a Argentina, a Nigéria e a Bósnia. No entanto, a equipe nacional iraniana é a melhor seleção da Ásia no último ranking mundial da Fifa, à frente de sua adversária africana, a Nigéria.

Em compensação, os iranianos esperam de sua equipe que ela se mostre unida, que lute até o fim e que não se desarme rapidamente diante de uma equipe como a Argentina. Afinal, os iranianos querem que sua equipe surpreenda, não necessariamente para se classificar, mas para que no Brasil toda a mídia mundial fale de seu país de forma que o tema do futebol supere o da crise nuclear e dos desentendimentos com a comunidade internacional.

Ao mesmo tempo, uma vitória do Irã daria aos iranianos uma rara ocasião para que eles saíssem às ruas das grandes cidades do país. São raras as ocasiões para os iranianos ocuparem as ruas, seja para manifestar alegria ou descontentamento. A Copa é a maior chance disso.

* Nima Ghadakpour é jornalista iraniano e colabora com vários veículos internacionais, entre eles o Euronews.com