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Arquivo : abril 2014

Mudanças de atitude no Brasil merecem a atenção de todos
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UOL Esporte

Por Sérgio Ferreira de Almeida*

A pouco mais de um mês para o pontapé de abertura do Mundial, são poucos os portugueses que não queriam estar na Brasil. Jogadores, jornalistas e torcedores.

Os jogadores, até 19 de maio, vão saber se fazem parte da lista de eleitos de Paulo Bento. A convocação não deve andar muito longe dos últimos jogos de preparação. Nas últimas semanas só a perna esquerda de Cristiano Ronaldo tem sido alvo das preocupações nacionais. Mas o “Bola de Ouro” parece estar recuperado da lesão muscular e ninguém consegue imaginar a seleção portuguesa sem o melhor jogador do mundo.

Os jornalistas começam a rumar ao Brasil. Os verdadeiros apaixonados pelo futebol já querem ver reportagens sobre as cidades onde a seleção das Quinas vai jogar, os hotéis onde os internacionais portugueses vão ficar, se possível querem saber o que vão comer e em que camas vão dormir, ou seja, todo o ambiente que vai envolver a equipe nacional.

E a curiosidade aumenta sobretudo porque a Portugal têm chegado informações sobre tudo que ainda há por fazer até dia 12 de junho. Sendo portugueses, sabemos o que é deixar muito por fazer até à última hora. Mas mesmo entre os jornalistas existe a sensação de que no final vai estar tudo pronto para uma grande festa, daquelas que só brasileiro sabe fazer. Difícil é convencer alemães, ingleses, franceses ou suíços de que esse é o nosso jeito, tão português e brasileiro, de fazer as coisas.

Além disso, há muito que os jornalistas se preparam para este mundial. A grande novidade foram as reportagens registradas até agora: poucos previam que do Brasil chegassem imagens de contestação à organização do Mundial; imagens de um povo brasileiro mais interessado nos problemas que afetam o país que na bola a rolar pelos campos. Não houve uma contestação tão grande nem quando Portugal recebeu o campeonato da Europa, em 2004, e foram gastos milhões de euros em 10 estádios novos. São mudanças de atitude que merecem a atenção de todos.

Agora os torcedores: quem pode atravessar o Atlântico já têm os bilhetes comprados. Mas não serão muitos os que se podem dar a esse luxo. A carteira dos portugueses tem “emagrecido” bastante nos últimos anos com a crise e uma ida ao Brasil para acompanhar a seleção é um sonho que poucos conseguem concretizar. E desse sonho fazem parte os jogos da Copa, como é óbvio, mas também tudo o que está relacionado com o Brasil: o calor, o samba, as praias, o churrasco, a caipirinha e o “chopinho”… Para muitos portugueses, não sendo possível ter o Mundial em casa, não haverá outro país onde um campeonato de futebol se enquadre tão bem. Se há um país que sabe fazer a festa do futebol, esse país é o Brasil.

De qualquer forma, nos estádios devem estar alguns dos muitos emigrantes portugueses que nos últimos anos rumaram ao Brasil à procura de trabalho. Esses estão prontos para matar saudades de casa através da bola.

A Copa deste ano acontece também num momento em que Portugal precisa de incentivos extras. Mergulhado na tal crise profunda há vários anos, o país está a tentar dar a volta e alimenta a esperança de que um bom resultado no campeonato venha a ajudar a melhorar o estado de espírito dos portugueses.

Ainda que na prática, no final pouco ou nada mude, pelo menos durante um mês vai ouvir-se falar menos de crise e desemprego e mais de futebol, com aquele sotaque “gostoso” do português do Brasil…

* Jornalista português, Sérgio Ferreira de Almeida trabalha há 10 anos para a SIC, televisão privada de Portugal. Há 3 anos que colabora com a Euronews, canal internacional de informação.


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