Planeta Copa

É hora de Messi se tornar um herói argentino

UOL Esporte

Por Fernando Moura*

“Pai! Olha o Messi!”. Esta foi a frase mais instigante de 15 dias em Buenos Aires antes da Copa acompanhando a esposa em reportagem. A minha filha, 3 anos e pouco, brasileira, esteve uns dias na capital portenha e não escapou da super-exposição do 10 da seleção argentina, tanto que já reconhece a Lionel Messi.

Assim, há poucos dias do início do Mundial, Buenos Aires e as grandes cidades da Argentina começam a vestir-se de “celeste y blanco”. Aos poucos as discussões sobre os motivos pelos quais Alejandro Sabella, técnico da equipe argentina não convocou a Carlitos Tevez, da Juventus, vão ficando para trás e em bares, restaurantes, cafés, escolas, escritórios, esquinas, o que se pensa, se fala, se gesticula e prognostica neste momento é como será a estreia no Mundial contra a Bósnia no mítico Maracanã.

Como já falamos no Planeta Copa, a Copa sem Maradona, mas no Brasil, tem condimentos, e muitos. Os mais novos andam, apesar do frio intenso, com a camisa do Messi e muitos já penduraram bandeiras nas janelas, colocaram autocolantes nos carros e lojas. As ruas de Buenos Aires têm Lionel Messi em todo lado, parece onipresente, aparece em outdoors de venda de aparelhos de TV, telefones, roupa esportiva, e até o avião que levará ao time até o Brasil foi pintado com as cores da seleção e foi estampada a cara do ídolo. Segundo os teóricos da comunicação, os publicitários argentinos perderam a criatividade, segundo os mais jovens, isso acontece – simplesmente – porque Messi é o melhor do mundo.

Mas o ídolo Messi é um ídolo diferente, porque por estas terras não é um ídolo indiscutido, unânime. Como em quase tudo, os argentinos divergem os dizeres sobre o “baixinho” que saiu de Rosário, província de Santa Fé, quando era um moleque para se curar de um problema de crescimento em Barcelona, Espanha, e lá ficou, se fez homem e o melhor jogador do mundo em várias ocasiões.

Para os argentinos, o Lionel Messi é um grande jogador, a questão é saber se ele, a diferença do mítico Maradona, sente realmente a “camisa”. Se ouve em todo lado, “Messi precisa jogar na Argentina para entender o rigor do jogo e depois ser o melhor do Mundial”.

Para o argentino, ganhar é importante. Mas, mais importante ainda – e isso deve-se a uma herança italiana – é que o jogador corra, transpire, se jogue no chão, tenha garra e, sobretudo, amor às suas cores. E nisso o Messi criado na Catalunha é diferente, tão diferente como quando pega a bola e a coloca junto ao pé, nesse momento parece que a bola está colada na chuteira.

Nos treinos abertos aos jornalistas em Ezeiza, na pré-temporada que a Argentina está realizando para o Mundial, vimos o Messi franzino e baixinho fazer coisas diferentes, únicas, e até “sobrenaturais”, como se atreveu a dizer o defensor do Barcelona Mascherano na primeira coletiva da seleção, “estamos falando de um jogador que nos acostumou nos últimos cinco anos a fazer coisas sobrenaturais'', por isso falam tanto da defesa argentina, porque ele “é diferente, faz coisas que ninguém faz nem fez”. Dias mais tarde, Demichelis (Manchester City) disse sorrindo, “não há nenhum Messi na defesa”.

E parece ser verdade, não sei se é sobrenatural, o que está claro é que é diferente, bonito, uma estranha forma de carinho pela bola. Mas muitos, entre os quais estou incluído, nos perguntamos se será este o Mundial da consagração, não como jogador, ele faz parte do planeta bola, mas sim da consagração interna, nacional, no seu país, na Argentina, no “potrero” onde os moleques correm com a camisa argentina com o seu nome estampado.

Quando a seleção argentina entrar em campo no domingo, 15 de junho, às 19h, será um dia especial, como disse há mais de duas décadas o slogan de uma rádio argentina: “Hoje não é um dia qualquer, hoje joga a seleção”. Por isso, as famílias argentinas se reunirão em frente à TV para ver o seu “país” jogar. E será pela TV.

Mas antes, muitos argentinos terão passado um dia em família, porque no país se comemora nesse domingo o “dia dos pais”, e como já ouvimos várias vezes nos últimos dias, o melhor “presente” seria um triunfo e estar no Maracanã. No mítico estádio haverá alguns argentinos, os que conseguiram ingressos em concursos – houve muitos – na venda tradicional ou na candonga e revenda, se fala de até 10 mil pesos (aproximadamente R$ 3200).

O que resta saber é se o Messi fará alguma coisa “sobrenatural” que o catapulte definitivamente como um herói argentino ou será mais um Mundial para o jogador. É uma dúvida, tomara se faça realidade e, no fim, a “Pulga” brilhe no campo do vizinho, do inimigo, da sogra. Até onde e em que campos pode brilhar, ainda é prematuro saber, mas já se sonha no país que no Maracanã (Bósnia), Mineirão (Irã) e Beira Rio (Nigeria), alguma coisa “sobrenatural” saia dos seus pés.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVargentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.