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Portugal tenta moderar seu pessimismo para o Mundial
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UOL Esporte

Por Sérgio Ferreira de Almeida*

Pode parecer o início de uma bela piada, mas aconteceu mesmo: estava eu, português, jantando com um inglês, um francês, um alemão e um espanhol, todos jornalistas especializados em futebol, e o tema de conversa era o Mundial do Brasil. Falou-se da qualificação e de quem está mais preparado para vencer a Copa.

O inglês não está muito confiante num bom resultado, aliás como tem acontecido nos últimos anos. O francês, por natureza grande defensor do país, desta vez também não está muito convencido da qualidade do futebol dos gauleses. O alemão, mais reservado, não quer parecer muito otimista e não faz grandes prognósticos. O espanhol acredita que os atuais detentores do título mundial e europeu vão chegar à final com o Brasil!

Dos portugueses, todos esperam que passem a fase de grupos, mas não acreditam que Cristiano Ronaldo e companhia tenham chance de chegar muito mais longe. Esse sentimento não é muito diferente em Portugal. Desde que Paulo Bento assumiu o comando da equipe que o país se habituou a não esperar muito. Não é um treinador que crie muitas expectativas, não é alguém que transmita muito entusiasmo quando fala aos torcedores. Mas também não podemos esquecer que depois de Scolari, que é um verdadeiro mestre na arte de mover multidões, nenhum treinador foi capaz de envolver tanto o país no espírito da seleção nacional.

De qualquer forma, nos últimos dias a euforia e o otimismo aumentaram. O ranking da Fifa foi divulgado e a seleção portuguesa está atrás apenas de Espanha, Alemanha e Brasil. E queira ou não há um entusiasmo que cresce quando se vê a equipa nacional tão bem classificada.

Mas também é neste momento que surge o lado mais pessimista dos portugueses: nas conversas de café há sempre um especialista de bola que vai lembrar que este quarto lugar no ranking Fifa ainda não se traduziu em qualquer título, pelo menos na seleção principal. Há sempre alguém que faz questão de recordar que a classificação para a Copa do Mundo do Brasil foi bem mais difícil que o inicialmente previsto. O passaporte para Mundial só foi carimbado depois de muito sofrimento, na repescagem contra a Suécia de Ibrahimovic. A alegria foi enorme no final da partida, mas não apaga da memória recente os empates com Israel e os jogos difíceis contra a Irlanda do Norte e o Azerbeijão nas eliminatórias.

Agora, se bem conheço o meu povo, acredito que no fundo, bem lá no fundo, quase todos, mesmo os mais pessimistas, alimentam a secreta esperança de que os jogadores portugueses se superem e façam uma Copa do Mundo excepcional, empurrados pelo grande motor do grupo, um Cristiano Ronaldo que está fazendo uma grande temporada.

*Jornalista português, Sérgio Ferreira de Almeida trabalha há 10 anos para a SIC, televisão privada de Portugal. Há três anos colabora com a Euronews, canal internacional de informação.


Mudanças de atitude no Brasil merecem a atenção de todos
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UOL Esporte

Por Sérgio Ferreira de Almeida*

A pouco mais de um mês para o pontapé de abertura do Mundial, são poucos os portugueses que não queriam estar na Brasil. Jogadores, jornalistas e torcedores.

Os jogadores, até 19 de maio, vão saber se fazem parte da lista de eleitos de Paulo Bento. A convocação não deve andar muito longe dos últimos jogos de preparação. Nas últimas semanas só a perna esquerda de Cristiano Ronaldo tem sido alvo das preocupações nacionais. Mas o “Bola de Ouro” parece estar recuperado da lesão muscular e ninguém consegue imaginar a seleção portuguesa sem o melhor jogador do mundo.

Os jornalistas começam a rumar ao Brasil. Os verdadeiros apaixonados pelo futebol já querem ver reportagens sobre as cidades onde a seleção das Quinas vai jogar, os hotéis onde os internacionais portugueses vão ficar, se possível querem saber o que vão comer e em que camas vão dormir, ou seja, todo o ambiente que vai envolver a equipe nacional.

E a curiosidade aumenta sobretudo porque a Portugal têm chegado informações sobre tudo que ainda há por fazer até dia 12 de junho. Sendo portugueses, sabemos o que é deixar muito por fazer até à última hora. Mas mesmo entre os jornalistas existe a sensação de que no final vai estar tudo pronto para uma grande festa, daquelas que só brasileiro sabe fazer. Difícil é convencer alemães, ingleses, franceses ou suíços de que esse é o nosso jeito, tão português e brasileiro, de fazer as coisas.

Além disso, há muito que os jornalistas se preparam para este mundial. A grande novidade foram as reportagens registradas até agora: poucos previam que do Brasil chegassem imagens de contestação à organização do Mundial; imagens de um povo brasileiro mais interessado nos problemas que afetam o país que na bola a rolar pelos campos. Não houve uma contestação tão grande nem quando Portugal recebeu o campeonato da Europa, em 2004, e foram gastos milhões de euros em 10 estádios novos. São mudanças de atitude que merecem a atenção de todos.

Agora os torcedores: quem pode atravessar o Atlântico já têm os bilhetes comprados. Mas não serão muitos os que se podem dar a esse luxo. A carteira dos portugueses tem “emagrecido” bastante nos últimos anos com a crise e uma ida ao Brasil para acompanhar a seleção é um sonho que poucos conseguem concretizar. E desse sonho fazem parte os jogos da Copa, como é óbvio, mas também tudo o que está relacionado com o Brasil: o calor, o samba, as praias, o churrasco, a caipirinha e o “chopinho”… Para muitos portugueses, não sendo possível ter o Mundial em casa, não haverá outro país onde um campeonato de futebol se enquadre tão bem. Se há um país que sabe fazer a festa do futebol, esse país é o Brasil.

De qualquer forma, nos estádios devem estar alguns dos muitos emigrantes portugueses que nos últimos anos rumaram ao Brasil à procura de trabalho. Esses estão prontos para matar saudades de casa através da bola.

A Copa deste ano acontece também num momento em que Portugal precisa de incentivos extras. Mergulhado na tal crise profunda há vários anos, o país está a tentar dar a volta e alimenta a esperança de que um bom resultado no campeonato venha a ajudar a melhorar o estado de espírito dos portugueses.

Ainda que na prática, no final pouco ou nada mude, pelo menos durante um mês vai ouvir-se falar menos de crise e desemprego e mais de futebol, com aquele sotaque “gostoso” do português do Brasil…

* Jornalista português, Sérgio Ferreira de Almeida trabalha há 10 anos para a SIC, televisão privada de Portugal. Há 3 anos que colabora com a Euronews, canal internacional de informação.


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