Planeta Copa

Argentina volta à elite fazendo final na ‘casa da sogra’
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

E a Argentina chegou à final na casa da sogra. E pior. Sem a sogra na sala de visitas para nos receber, não é a dona da casa que estará também lutando pelo posto de melhor do mundo. Talvez por isso que, como em quase toda família, a sogra agora se volte contra nós. Os mesmos que tão bem nos receberam e cantaram conosco durante todo esse mês de jornada.

Não importa. Já valeu. Chegar a uma final na casa da sogra não seria um evento corriqueiro mesmo se a sogra estivesse em campo. É coisa que acontece, quiçá, a cada 100 anos. E quem vai estar ali diante de nós, na pelea, é a poderosa e pragmática Alemanha. Esse fato, sim, podemos chamar até de corriqueiro.

Após 24 anos, uma nova final contra a Alemanha, a terceira. Até agora, foram duas, 3 a 2 no México 86, e 0 a 1 na Itália, em 90. Desde aquela final, a alviceleste não ultrapassava as quartas de final. Esta não será a final desejada pelos fanáticos argentinos que estão no Rio de Janeiro, que estão em cada canto da Argentina e do mundo olhando o mítico Maracanã e sonhando com que Lionel Messi levante no Brasil a Copa do Mundo. O dono da casa teria que estar em campo para tudo ser perfeito.

Como parte da história desta Copa, da história dos torcedores argentinos migrantes por terras brasileiras, este que vos escreve se emocionou em Porto Alegre após o 3 a 1 no dia 25 de junho, e chorou como uma criança nos pênaltis contra a Holanda na última quarta-feira (9 de julho, dia da Independência Argentina) após ganharmos o passe final para o Maracanã.

O jogo sofrido no Itaquerão contra uma conservadora e cautelosa Holanda talvez tenha sido o início de um novo paradigma no futebol argentino. Ali acordamos para uma nova seleção. Igualmente boa e merecedora do lugar que já conquistou entre as duas melhores do mundo. Mas uma seleção sem Maradona. Começou uma nova etapa na qual “El Pibe” já não está presente, nem como jogador (86 e 90), nem como treinador (2010).

O paradigma que nasceu em São Paulo é um paradigma inovador, a junção da garra, entrega e até loucura pela bola do Mascherano, Zabaleta, Demichelis, Enzo Perez e Lavazzi, e a magia de Lionel Messi, de Ángel Di María, que mesmo não estando no campo também escreveu a história até ali.

A nova etapa não teve, claro, as façanhas históricas de 1986 e 1990, mas sim a paciência de um time guerreiro e que nunca foi vencedor. E claro, momentos de inspiração e magia de Lionel Messi para ganhar jogos fechados como contra o Irã, na primeira fase da competição. Um Messi que neste domingo, 13 de julho, terá no seu terceiro Mundial a possibilidade de erguer a Copa do Mundo e com a mesma idade do seu ídolo, Diego Armando Maradona, coroar-se campeão do Mundo. Um Messi que se iluminar a sua lâmpada pode brilhar e ser o melhor desta Copa. Um Messi que até pode ser artilheiro desta competição.

Deixando os “se”, o que pode acontecer na final contra a Alemanha não é uma incógnita. Mais uma vez será um jogo onde um pormenor poderá definir a história. Onde uma jogada magistral poderá mudar o rumo do jogo. Onde a máquina alemã sairá a campo com a vantagem mental de ter goleado o Brasil em casa, e com o Maracanã a torcer a seu favor.

E onde desde a arquibancada os poucos argentinos privilegiados que possam entrar – haverá muitos mais, diria milhares mais fora – poderão desde lá apoiar um time que mudou o curso da história e devolveu à Argentina o seu lugar no mundo da bola, um lugar entre os grandes. Um lugar onde o paradigma do futebol e o jogo bonito são importantes, mas que, além disso, é preciso ter uma boa defesa, ter jogadores que correm, que tem rigor tático e, sobretudo, tem alma e coração, coisa que o time do Alejandro Sabella parece ter até demais.

A final no Maracanã é para ser jogada, mas sobretudo para ser desfrutada. Carpe Diem e bem haja pelo futebol e pela hipótese que como torcedor ter sido parte desta história, a história dos migrantes argentinos nesta Copa do Mundo.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TV argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Menos nacionalismo, mais ideias de Cruyff à seleção brasileira
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UOL Esporte

Por Tim Vickery *

Quando Johan Cruyff fala sobre futebol, você fica quieto e ouve – a não ser que você não tenha interesse no assunto – ou é um idiota.

Infelizmente, existem algumas pessoas que parecem estar nessa última opção. Cruyff, como jogador, treinador e pensador, é uma das vozes mais brilhantes e influentes deste jogo.

O holandês é a cabeça por trás do modelo de jogo do Barcelona – indiretamente, é, em partes, arquiteto da inacreditável derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 na semifinal (os alemães assimilaram com sucesso vários aspectos do jogo do Barcelona de Pep Guardiola, pupilo de Cruyff, agora comandando o Bayern de Munique – uma série de ideias progressistas do futebol que podem ser seguidas sem parecer ter qualquer participação brasileira).

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Para a Argentina só vale a vitória. ‘Cueste lo que cueste’
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

Chegar a semifinal de um Mundial após 24 anos, ainda mais no Brasil, é um fato histórico para a Argentina de Sabella e Messi e para os milhares de torcedores que estão peregrinando pelo país. O próximo adversário é duro. É a Holanda de Robben, a Holanda da Rainha Máxima, também argentina que estará na arquibancada, a Holanda de jogo rápido e bonito.

Como já dissemos em crônicas anteriores, a história desta Copa do Mundo é a história das migrações temporárias, as migrações de milhares de argentinos rumo ao Brasil. O êxodo começou no início de junho rumo ao mítico Maracanã, no Rio de Janeiro. Viajou para Belo Horizonte em Minas Gerais, lotando o Mineirão. Depois a última romaria da primeira fase foi para sul, em Porto Alegre. Na capital gaúcha, a enchente argentina superou todas as expectativas com milhares tomando ruas, praças, campings, hotéis e todo o espaço possível numa cidade amiga, semelhante às argentinas, como muito “asado/churrasco”, “mate/chimarrão” e “fernet com cola”, e claro, com uma vitória contra a Nigéria.

Cumprida a missão da primeira fase. Três vitórias em três jogos, os torcedores argentinos rumaram para a imensa São Paulo. Mais uma vez ocuparam a cidade, mas desta vez foi mais discreto. Ser “local” na maior metrópole da América latina é impossível. Foi sofrido contra a Suíça. Já em Brasília, a Capital Federal, foi conquistada com música, bombo, muita garganta e uma boa vitória contra a Bélgica nas quartas de final.

Agora a tropa, em um tremendo road-movie, está chegando a São Paulo para uma nova semifinal de Mundial, uma partida com a poderosa Holanda mais de duas décadas depois da final de 1978, quando muitos desses romeiros ainda não tinham nascido.

Os enfrentamentos entre a laranja mecânica da década de 1970 e a Argentina foram memoráveis, pelas alegrias e desventuras. Os números são desfavoráveis para Argentina. Começaram em 1974 com dois encontros, amistoso 4 a 1 para Holanda e, no Mundial da Alemanha, 4 a 0, com um Cruyff inspirado.

De oito confrontos, uma vitória por 3 a 1 na prorrogação com um Mário Kempes iluminado na final do Mundial de 1978, na Argentina – quatro derrotas e três empates. Em mundiais, a Holanda, como os números anteriores revelam, é superior, duas vitórias, um empate e uma derrota, mas esta ocorreu justamente na final da Copa do Mundo.

De todas as vitórias holandesas, a mais importante é a da Copa da França, 2 a 1 em Marselha pelas quartas de final, com um gol magistral de Bergkamp. O último confronto foi na Alemanha, em 2006, com os dois times qualificados para as oitavas de final. Foi um empate por 0 a 0 e a qualificação em primeiro lugar para Argentina.

O jogo desta quarta-feira, no Itaquerão, em São Paulo é desses jogos que há que ganhar, que há que vencer, como disse a torcida, “cueste lo que cueste”, sobretudo porque o Brasil está fora da final e porque ganhar um título no Brasil seria inolvidável. E, claro, estar no Maracanã sem o Brasil pareceria sinônimo de ser local.

Se a Argentina passar a Holanda, outra vez cruzará com a Alemanha, como no México 86, ganhando por 3 a 2, e na Itália 90, derrotada 1 a 0. O que poderá acontecer na final, e quem acompanhará a Alemanha, é imprevisível. O que está claro é que o jogo entre a Argentina e a Holanda será difícil, corrido, de muita perna e onde o posicionamento tático será fundamental para definir um vencedor.

A Argentina, como disse Sabella na pré-temporada realizada em Ezeiza antes do Mundial, “não tem mistério no esquema tático. Até em Júpiter o conhecem''. A Holanda abusará da rapidez de Robben e, assim, o jogo se definirá por pequenos e grandes pormenores, técnicos e táticos. Mas, se a equipe de Messi passar, se o Messi brilhar, quem conterá a avalanche argentina na Cidade Maravilhosa? Parece-me que a esta altura do campeonato, ninguém, nem mães, nem esposas, nem filhos, porque “cueste lo que cueste, hoy tenemos que ganar”.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVs argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Ah, como era boa a minha Copa
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UOL Esporte

Por Tim Vickery*

Um compatriota meu escreveu um artigo no jornal Lance! antes da Copa do Mundo de 2014 argumentando que os Mundiais antigos eram melhores. É uma opinião perfeitamente respeitável; os torneios anteriores tinham um charme ingênuo que jamais será retomado.

Mas a justificativa dele expõe uma falha comum no pensamento europeu. As velhas Copas do Mundo, ele disse, eram melhores porque menos países participavam e eles ficavam mais próximos das pessoas.

A contradição é impressionante, mas muitos dos meus compatriotas caem nessa. A questão óbvia é: as Copas do Mundo antigas eram mais próximas de que pessoas? Certamente não dos asiáticos ou africanos.

Leia a matéria completa no UOL Copa do Mundo


‘Decime que se siente’ em participar da festa da Argentina
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

A migração argentina continua. A onda azul e branca veio do sul como uma onda polar comum no inverno brasileiro, chegou ao Brasil, foi até o Rio de Janeiro, recuou para Belo Horizonte e Porto Alegre e agora está chegando a São Paulo para mais uma vez fazer barulho empurrando a seleção da Argentina contra a Suíça no Itaquerão.

Na primeira coluna do Planeta Copa falamos que talvez este seria o Mundial da participação cidadã. Porque muitos argentinos deveriam vir ao Brasil para sentir o clima, sentir como é possível ser “local” na terra do vizinho, cruzando a fronteira de bandeira em punho não para conquistar, mas sim para ganhar. É isso está se concretizando.

Estive em Porto Alegre na última quarta-feira, 25 de junho de 2014. Aos 41 anos sou um homem de muito futebol e muitas viagens mundo afora pela bola, como torcedor, como jornalista e como produtor geral de transmissões da Fifa, mas a sensação da manhã de quarta em Porto Alegre vai ficar guardada na memória.

Foi uma manhã, uma tarde, uma noite de participação popular, de participação cidadã que tomou conta dos argentinos e de muitos habitantes da capital gaúcha que saíram às ruas para ver, participar e até comemorar a alegria de um povo irmão.

O acolhimento do povo gaúcho me marcou. Paz, harmonia e muita admiração pela horda simpática e musical que tomou a cidade. Argentinos dormindo nas ruas, em praças, em carros, em postos de gasolina, na rodoviária, no aeroporto, onde fosse possível. Eram argentinos que queriam participar da festa. Participaram, e como. Às 3 da madrugada as ruas da cidade velha estavam lotadas de argentinos cantando e saltando…

Descrever o fenômeno é difícil por dois motivos: pelo tamanho dele, porque, volto a confessar, fui tomado pela paixão e a força de um povo feliz pela vitória e, sobretudo, por “participar”.

Esta talvez seja a maior migração da história ao país vizinho. Migração temporária, mas que ficará na memória de muitos argentinos, e claro, de muitos gaúchos. Dizem os estudiosos das migrações contemporâneas que o ato de emigrar é parte de um sonho coletivo, familiar. Que se emigra por esperança, por laços familiares, por redes sociais. Se emigra como parte de uma planificação que tende a melhorar a vida.

Tudo isso pareceu que esteve implícito em Porto Alegre. Milhares de gaúchos argentinos tomaram por assalto a capital gaúcha brasileira. Um assalto simbólico, uma migração curta, mas duradora na alma de muitos e muitas.

O fenômeno não é simples. Este é um movimento que se foi criando no inconsciente coletivo dos argentinos desde que foi anunciado que o Mundial seria no Brasil, na casa da sogra. Um sonho que, como o futebol, está envolvido de pura paixão, e que ainda acontece ao lado, no país vizinho.

O futebol na Argentina se sente no sangue, na pele, faz parte do dia-a-dia das pessoas, das famílias, dos grupos de amigos. Por isso neste Mundial as histórias de migrações temporárias se multiplicam por milhares e são fantásticas. Desde gente que chegou de bicicleta até quem viajou 4000 quilômetros de carona. Desde sujeitos que deixaram as suas mulheres após a lua-de-mel e outros que tentaram salvar o namoro pedindo em casamento as suas “ex-namoradas” pela TV.

Tudo isso porque o importante é participar. É estar com ou sem ingresso – a esmagadora maioria sem. É cruzar a fronteira e fazer parte da festa, da festa do futebol. E, como Argentina ganhou, passou às oitavas de final com Messi brilhando, muitíssimos, dentro e fora do Beira-Rio se ilusionaram, começaram a imaginar ver o quarteto de ataque argentino despontando para uma linda exibição nesta terça-feira, 1º de julho, no Itaquerão.

E por isso, a migração argentina agora está se dirigindo para o Sudeste, para São Paulo. Uma migração pacífica, mas barulhenta, com muita gente sem ingressos, mais uma vez a esmagadora maioria, mas com fé, com bombo e muita garganta, porque como diz a música… “decime que se siente tener en casa a tu papa!” O que acontecerá, como segue o road movie e a caravana é difícil de imaginar, o que se pode vaticinar é que se passar as quartas, ela continuará rumo a capital, rumo a Brasília, e sabe Deus até onde poderá rumar. O que este jornalista pode pressupor, se é que lhe é permitido inferir a um jornalista, é que a paixão não vai parar…

*Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TV argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Argélia precisa do espírito de 82 para lutar contra seu Golias
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UOL Esporte

Omar Almasri*

Uma revanche por 1982: é disso que se trata para a Argélia o confronto desta segunda-feira contra a poderosa Alemanha. A seleção conhecida como “Raposas do Deserto” (Le Fennecs, em francês) e dirigida por Vahid Halilhodzic avançou às oitavas de final desta Copa do Mundo depois de um empate contra a Rússia, feito inédito para o futebol do país e que não acontecia para uma seleção árabe há 20 anos. O que faz com que a excitação e ansiedade esteja em intensidade máxima não só para os argelinos, mas, de certa forma, para todo mundo árabe.

A Argélia é a única representante árabe a ter chegado tão longe numa Copa do Mundo, o que é um motivo de imenso orgulho para qualquer torcedor árabe. O confronto diante da tricampeã mundial Alemanha pode parecer desequilibrado no papel, mas não para aqueles familiarizados com a história deste duelo. A Argélia pode provar que não será presa fácil para um dos favoritos do torneio.

1982, o ano em que a Espanha realizou a 12ª edição da Copa do Mundo. Um torneio recheado de surpresas e decepções, como aconteceu com a anfitriã do Mundial, que teve um desempenho medíocre e que manchou um pouco a empolgação com a competição. Foi nesta Copa que a Argélia teve a sua primeira grande participação nos principais palcos do futebol mundial. Essa inexperiência fez com que muitos imaginassem que os garotos da seleção fossem mais cedo para o chuveiro. Ledo engano. A seleção argelina era uma equipe talentosa, que contava com jogadores como Rabeh Madjer e Lakhdar Belloumi, os melhores do elenco e que poderiam fazer a Argélia provocar um impacto bastante positivo.

Logo na estreia, a Argélia enfrentou a assustadora Alemanha Ocidental, uma das melhores seleções do mundo e que contava com alguns dos melhores jogadores de sua geração, como Karl-Heinz Rumenigge, Paul Breitner e Lothar Matthäus. Era um 16 de junho, e o estádio Molinón, em Gijón, recebeu 42 mil torcedores. Enfrentar uma equipe tão magnífica em um palco como aquele parecia ser uma missão dura demais para a equipe. O técnico da Alemanha, Jupp Derwall, chegou a dizer que, caso sua seleção perdesse, entraria no primeiro trem disponível para Munique. Um jogador alemão chegou a afirmar: “dedicaremos o sétimo gol para nossas mulheres, e o oitavo para os nossos cachorros”. Mas, apesar de todas as ridículas e deselegantes manifestações de desdém, Madjer e cia. fariam todos que duvidavam deles a comer uma porção de kanafeh (um famoso prato árabe).

Depois de um primeiro tempo sem gols, Madjer – que depois seguiria para o grande Porto e marcaria o memorável gol do título da equipe portuguesa na Liga dos Campeões de 1987 -, chocou a todos que estivessem assistindo ao jogo, ao colocar as “Raposas do Deserto” na frente, aos 9 minutos do segundo tempo. Rumenigge empataria para a Alemanha, mas um minuto depois, Belloumi selaria uma das maiores zebras da história . Vitória de 2 a 1, e não para a poderosa Alemanha Ocidental, mas para os subestimados, azarões, mas determinados e talentosos jogadores da Argélia. Um resultado que viverá por muito tempo na memória de qualquer argelino ou árabe em geral, mas que perderia o seu sentido apenas uma semana depois.

Um dia depois que a Argélia venceu o Chile por 3 a 2, Alemanha Ocidental e Áustria se enfrentaram. Sendo que a Copa de 1982 era disputada de forma que as duas últimas partidas de cada grupo da primeira fase não eram realizadas simultaneamente e as vitórias valiam dois, e não três pontos, alemães e austríacos foram para o jogo sabendo que uma vitória da Alemanha por um ou dois gols classificaria ambos, eliminando a Argélia. O ponto de partida para que ocorresse um dos jogos mais infames e escandalosos da história das Copas: a “Desgraça de Gijón”.

Assim que o jogo começou, a Alemanha Ocidental se atirou ao ataque e conseguiu um gol aos 10 minutos, com o atacante Horst Hrubesch. Depois disso e até o final, porém, as duas equipes ficaram apenas passando a bola de um lado a outro sem a menor intenção de atacar o seu adversário. Mas o que estava acontecendo ficou logo muito claro para quem estava assistindo a partida: aquilo era um esquema pré-concebido para que as duas seleções se classificassem, em detrimento da Argélia. Um jogo que deixará a infâmia marcada para sempre, tanto que até torcedores alemães queimaram a bandeira nacional, tamanha a frustração e decepção com o que ocorrera. O jogo havia terminado logo aos 10 minutos do primeiro tempo, e a Argélia estava eliminada da Copa.

Aqueles que acompanharam a Copa do Mundo ao longo dos anos passaram a saber que aquilo, um momentos mais baixos e lamentáveis da competição, e os argelinos – especialmente os que estiveram em campo naquele dia – nunca se esqueceriam do que se passou em Gijón.

“Alemães e austríacos obviamente jogaram para assegurar que nós (argelinos) não avançássemos, e agora o time atual tem a chance de nos dar uma revanche”, afirmou o meia Lakhdar Belloumi ao jornal inglês “The Guardian”. “O que aconteceu não irá pressioná-los, vai, sim, inspirá-los”. Para os argelinos, é um jogo de revanche e retribuição para o que lhes foi tirado a força há 32 anos.

Assim como ocorreu naquela ocasião, as “Raposas do Deserto” vão como azarões para o confronto contra um gigante e favorito. Mas como a Argélia de 1982, a atual seleção possui jogadores talentosos que não podem ser subestimados, como a estrela Sofiane Feghouli, do Valencia, e Yasine Brahimi, o coração da equipe, que têm a companhia do grande Islam Slimani, que com sua cabeçada contra a Rússia levou a equipe adiante na Copa. Além do enérgico zagueiro Faouzi Ghoulam e o promissor Nabil Bem Taleb, do Tottenham.

Jogadores talentosos que vão encarar um hercúleo desafio contra uma equipe que tem estrelas consagradas como Ozil, Lahm e Müller. Mas assim como seus antecessores fizeram, grandes nomes não importam muito no futebol. Coração, coragem e determinação podem superar eventuais deficiências, e isso esta Argélia tem em abundância. Tudo o que eles precisam é olhar para trás e resgatar o espírito dos jogadores de 1982. Lutar contra quem foi o Golias do seu passado. Se eles forem fundo, o impossível poderá se tornar possível. É preciso o espírito daquele time, a determinação de 1982. Se eles conseguirem isso, a poderosa Alemanha terá uma briga dos infernos em suas mãos.

*Omar Almasri é jornalista jordaniano-palestino e já colaborou com o The New York TImes, Al Jazzera, Oman Times, Sabotage Times e FourFourTwo.com.


Um país está por trás do Chile. Mas, na frente, está o Brasil
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UOL Esporte

*O Carteiro da Ilha Negra

Falar do Brasil para os chilenos é quase como se aparecesse uma fera no caminho. E se o jogo é num Mundial, pior ainda. É caso de se olhar o passado. Em 1962, o Chile organizou a Copa do Mundo. Nas semifinais, todo o país estava esperançoso. À frente estava a seleção brasileira. O balde de água fria não demorou: o “Scratch” ganhou por 4 a 2 para, depois, terminar como o melhor da Copa, enquanto o Chile teve que se conformar com o terceiro lugar.

Em 1998 os chilenos voltaram à Copa após 16 anos. A expectativa era enorme. Milhares e milhares de compatriotas viajaram à França para ver o time liderado pelos artilheiros Marcelo Salas e Iván Zamorano. Invicto na fase de grupos, com direito a um polêmico empate contra a Itália na estreia, o Chile acabou tendo que enfrentar o Brasil nas oitavas de final. O sonho parou ali: 4 a 1 para Ronaldo e companhia.

A história se repetiu na África do Sul. O Chile estava nas mãos do argentino Marcelo Bielsa e de uma geração que não cedia ao impossível. Uma eliminatória muito boa fez com que os chilenos tivessem esperança de avançar na Copa. Mas o sorteio dos grupos mais uma vez colocou o Brasil no caminho da ‘Roja’. A história, mais uma vez, não teve um final feliz para os chilenos: 3 a 0 para o Brasil.

Neste sábado o Chile terá uma nova oportunidade. Talvez o cenário não seja o melhor. O Brasil joga em sua casa, com um Neymar inspirado e com o objetivo de ganhar o Mundial. Mas o Chile já fez história vencendo pela primeira vez a Espanha e, de quebra, eliminou o atual campeão.

Bravo, Medel, Vidal, Sánchez e Vargas cresceram sonhando ser campeões do mundo. E eles acreditam de verdade. Para eles não existem triunfos morais. Tampouco derrotas honrosas. O verbo que conjugam desde que estão concentrados em Belo Horizonte é triunfar.

Eles carregam em suas costas a esperança de milhões e milhões de chilenos. E estão decididos a esculpir uma obra que sem dúvida poderá levá-los ao ponto mais alto da história do futebol chileno. Todos um país está por tras deles. O problema? Na frente está o Brasil, embora a confiança de um país inteiro é que a quarta vez será a da vitória.


O que pode ligar Cristiano Ronaldo a Pelé? A história de Morais
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UOL Esporte

Por Luís Aguilar

Estamos na Copa do Mundo de 1966, em Inglaterra. As seleções de Portugal e Brasil se enfrentam na última rodada da fase de grupos. Os brasileiros precisam vencer para passar à fase seguinte e todos aguardam um grande duelo entre Eusébio e Pelé. Mas o jogo fica marcado por outro duelo. Entre Pelé… e Morais. O jogador do Sporting tinha a missão de marcar o “Rei”. Perseguiu-o por todo o campo sem deixá-lo respirar. Até ao momento fatídico…

“Foi uma jogada normal e eu tive a infelicidade de estar atrás dele. O nosso capitão [Coluna] disse-me para não o largar, para não o deixar passar. Era um jogo entre seleções e eu era português. Olhando para trás, reconheço que tinha poucas alternativas. Pareceu-me ver a bola e estiquei a perna. Sim, talvez tenha sido em tesoura. Mas nada de anormal. Nada que não se faça hoje muito pior”, lembrou Morais numa entrevista ao jornal português “Record”, em 2000, dez anos antes de falecer.

A verdade é que aquele lance imortalizou Morais na história do futebol como o homem que quebrou o “Rei”. Muitos torcedores brasileiros garantem que a seleção de Eusébio apenas ganhou aquele jogo porque Morais lesionou Pelé, mas quem estava em campo tem outra versão.

“Pelé deixou Morais sem sentidos”

José Augusto, velha ídolo do Benfica, foi um deles. Falei com ele para me contar o que se tinha passado. Não tem dúvidas em afirmar que a história sempre foi mal contada por Pelé e pelos brasileiros: “O Morais não lesionou o Pelé na Copa do Mundo de 1966. O Pelé já vinha lesionado do Brasil. Eles tentaram recuperá-lo, aos poucos, como nós estamos agora a tentar fazer com o Cristiano Ronaldo, mas nunca conseguiram. Vimos o que ele fez nos jogos anteriores e percebíamos que não era o Pelé que nós conhecíamos. Notava-se que não estava bem.”

Augusto também lembra que Pelé tinha levado uma pancada forte no jogo de estreia, quando o Brasil venceu a Bulgária, e ficou ainda pior. “Com o Morais foi um lance de bola dividida, perfeitamente normal. E sem intenção. Daqueles em que quem chega primeiro à bola, leva cacetada. O Pelé chegou primeiro e foi tocado.” O resto, para Augusto, são “desculpas de quem perde”. “Eles dizem que foram derrotados apenas por causa do lance entre o Morais e o Pelé, mas quando isso aconteceu já estávamos a ganhar por 2 a 0.”

À época não se podiam fazer substituições – as mesmas só foram introduzidas na Copa de 1970 – e Pelé voltou ao jogo sem ser capaz de lutar pela virada, mas pronto para acertar contas com o seu marcador direto, como recorda Augusto. “Deu uma cacetada na cara do Morais e deixou-o sem sentidos. Foi vingativo!”

“Te mato, veado!”

O próprio Morais lembrou esse momento por diversas ocasiões. Assim que Pelé caiu, terá feito a ameaça ao defesa português: “Te mato, veado.” Quando voltou ao jogo, quis cumprir a promessa: “Ele disse-me que me iria golpear e o fez. Nunca se sabia de que lado vinha e só me lembro de receber uma cabeçada no maxilar que me fez desmaiar. Fiquei deitado e sem sentidos durante alguns segundos e a primeira coisa que disse foi ao senhor Manuel Marques [massagista] para ver se ainda me restavam os dentes.'' Estava tudo no lugar. Morais conservou a dentadura e Portugal venceu o Brasil por 3 a 1, com dois gols de Eusébio e um de Simões.

Mas essa não foi a única aventura de Morais na Copa de Inglaterra. Quem o conheceu diz que era um verdadeiro personagem. Sempre divertido e esperto diante das oportunidades de negócio. Foi o que fez nessa Copa: “Antes do jogo de estreia, contra a Hungria, o Morais calçou uma chuteira de cada marca para poder receber dinheiro de ambas. Primeiro, fechou acordo com a Puma. Depois, acertou tudo com a Adidas. Só reparei no vestiário, depois do jogo. E a verdade é que ele safou-se. Recebeu dos dois lados.”

No Brasil, Morais ficou conhecido como o jogador que lesionou Pelé em 1966. Mas, em Portugal, é lembrado por um momento diferente. Foi o autor do gol com que o Sporting venceu o MTK de Budapeste na final da Recopa de 1964. Até hoje, esse é o único título europeu do clube. O momento de inspiração ficou para sempre conhecido como “o cantinho do Morais”. Uma forma bem mais bonita de ser recordado.

Luís Aguilar é um jornalista e escritor português. Tem trabalhado em diversos jornais, revistas e televisões, destacando-se o jornal português Record, Correio da Manhã, revista Sábado, Playboy, CMTV e SIC. Também é autor de vários livros sobre futebol, entre os quais o recente ''Jogada Ilegal'', sobre a corrupção na FIFA. No Twitter, @LuisAguilar__


Parece que é pedir muito para a Alemanha vencer no Brasil
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UOL Esporte

Por Susie Schaaf*

Quando o Grupo G foi anunciado – Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Gana -, muitos o consideraram difícil para os alemães, mas totalmente administrável. O consenso no país não era ''será que a 'Mannschaft' vai passar?'', mas sim quem passaria em segundo lugar, atrás dela. Mas, depois que tantos jogadores-chave perderem sua posição por estarem lesionados ou recém-recuperados, Joachim Löw assume o leme de seu quarto grande torneio com opções perigosamente escassas em algumas posições muito importantes.

Só Miroslav Klose, da Lazio, foi convocado na função de autêntico atacante. E o veterano Klose, de 35 anos, perdeu muitos jogos da temporada da Série A, só conseguindo fazer oito gols e cinco assistências.

Não quer dizer que Klose tenha perdido o rebolado, mas a marcha inevitável do tempo o está alcançando. Com o mesmo número de gols marcados pela Alemanha que o ''der Bomber'' Gerd Mueller – 68 – ele está apenas a dois de ultrapassar o recorde do brasileiro Ronaldo pela seleção brasileira. Löw está assumindo um risco ao incluí-lo, mas a recompensa – caso o veterano consiga jogar – será espetacular.

Se estivéssemos falando apenas da posição de atacante, talvez não fosse um problema muito grande, mas olhando um pouco mais atrás, é lá onde estão os verdadeiros problemas que, sanados, serão soluções fantásticas. Lahm, Schweinsteiger e Khedira se recuperaram fisicamente ou de lesões apenas durante a fase de preparação. Sem um deles, a Alemanha começaria com Toni Kroos, do Bayern de Munique, e Christoph Kramer, do Borussia Moenchengladbach, no meio campo. O primeiro não tem uma verdadeira mentalidade de defesa, enquanto o último tem apenas um jogo pela seleção.

Minimizando a possível perda de jogadores-chave, Löw e o diretor geral Oliver Bierhoff preferiram instituir uma necessidade de ''espírito de equipe''. Eis um exemplo: na concentração na Bahia, local de treinamento no Brasil, os jogadores ficarão em seis em cada quarto – promovendo a camaradagem na delegação.

''Sempre que vamos a um torneio chegamos lá com a intenção de ganhar, independentemente da situação da equipe'', disse Löw em entrevista recente. E parece que neste momento as peças-chave Neuer, Lahm,  Khedira e Schweinsteiger estão prontos para contribuir.

A revolução da Alemanha até chegar a seu estilo moderno de futebol começou em 2000, depois que a seleção foi chutada da Eurocopa naquele verão em um grupo que tinha a Inglaterra, Romênia e Portugal. E embora ela tenha chegado à final da Copa do Mundo de 2002 contra o velho inimigo Brasil – perdendo de 2 a 0 – mudanças amplas em todo o seu sistema futebolístico estavam em andamento. Essas mudanças ainda não dariam frutos na Eurocopa de 2004, quando a Alemanha foi novamente mandada para casa depois da etapa dos grupos com a República Tcheca e a Holanda à sua frente, mas as coisas começaram a mudar para a seleção alemã em 2006.

Talvez isso tenha se dado porque a Alemanha era anfitriã do torneio, ou talvez porque o técnico na época, Juergen Klinsmann, com seu assistente Löw, tomaram decisões ousadas em relação à equipe nos dois anos anteriores, mas a jovem seleção alemã – que ninguém achava que faria alguma coisa – conseguiu ficar em terceiro.

A Eurocopa de de 2008 viu a Alemanha perder por pouco da Espanha, 1 a 0, na final, e mais uma vez dois anos mais tarde na semifinal na África do Sul, eventualmente ficando em terceiro lugar. O ano de 2012 teve a Alemanha no mesmo terceiro lugar depois de perder a semifinal para a Itália.

Embora o sistema juvenil da Alemanha esteja firmemente estabelecido – com muitos jovens talentosos fazendo carreira, prontos para assumir os lugares dos mais velhos ou mal condicionados, a Copa de 2014 no Brasil deveria ter sido o momento para a Alemanha brilhar. E ainda pode ser, se Löw conseguir encontrar uma forma de unir sua equipe de jovens talentosos e veteranos lendários. Mas isso é pedir muito jogando na América do Sul — onde nenhuma equipe europeia venceu um torneio — e no Brasil… contra o Brasil e a seleção empolgante de Luiz Felipe Scolari.

Susie Schaaf é jornalista alemã e escreve para o ESPN FC, BBC e outros veículos especializados em futebol.


É hora de Messi se tornar um herói argentino
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

“Pai! Olha o Messi!”. Esta foi a frase mais instigante de 15 dias em Buenos Aires antes da Copa acompanhando a esposa em reportagem. A minha filha, 3 anos e pouco, brasileira, esteve uns dias na capital portenha e não escapou da super-exposição do 10 da seleção argentina, tanto que já reconhece a Lionel Messi.

Assim, há poucos dias do início do Mundial, Buenos Aires e as grandes cidades da Argentina começam a vestir-se de “celeste y blanco”. Aos poucos as discussões sobre os motivos pelos quais Alejandro Sabella, técnico da equipe argentina não convocou a Carlitos Tevez, da Juventus, vão ficando para trás e em bares, restaurantes, cafés, escolas, escritórios, esquinas, o que se pensa, se fala, se gesticula e prognostica neste momento é como será a estreia no Mundial contra a Bósnia no mítico Maracanã.

Como já falamos no Planeta Copa, a Copa sem Maradona, mas no Brasil, tem condimentos, e muitos. Os mais novos andam, apesar do frio intenso, com a camisa do Messi e muitos já penduraram bandeiras nas janelas, colocaram autocolantes nos carros e lojas. As ruas de Buenos Aires têm Lionel Messi em todo lado, parece onipresente, aparece em outdoors de venda de aparelhos de TV, telefones, roupa esportiva, e até o avião que levará ao time até o Brasil foi pintado com as cores da seleção e foi estampada a cara do ídolo. Segundo os teóricos da comunicação, os publicitários argentinos perderam a criatividade, segundo os mais jovens, isso acontece – simplesmente – porque Messi é o melhor do mundo.

Mas o ídolo Messi é um ídolo diferente, porque por estas terras não é um ídolo indiscutido, unânime. Como em quase tudo, os argentinos divergem os dizeres sobre o “baixinho” que saiu de Rosário, província de Santa Fé, quando era um moleque para se curar de um problema de crescimento em Barcelona, Espanha, e lá ficou, se fez homem e o melhor jogador do mundo em várias ocasiões.

Para os argentinos, o Lionel Messi é um grande jogador, a questão é saber se ele, a diferença do mítico Maradona, sente realmente a “camisa”. Se ouve em todo lado, “Messi precisa jogar na Argentina para entender o rigor do jogo e depois ser o melhor do Mundial”.

Para o argentino, ganhar é importante. Mas, mais importante ainda – e isso deve-se a uma herança italiana – é que o jogador corra, transpire, se jogue no chão, tenha garra e, sobretudo, amor às suas cores. E nisso o Messi criado na Catalunha é diferente, tão diferente como quando pega a bola e a coloca junto ao pé, nesse momento parece que a bola está colada na chuteira.

Nos treinos abertos aos jornalistas em Ezeiza, na pré-temporada que a Argentina está realizando para o Mundial, vimos o Messi franzino e baixinho fazer coisas diferentes, únicas, e até “sobrenaturais”, como se atreveu a dizer o defensor do Barcelona Mascherano na primeira coletiva da seleção, “estamos falando de um jogador que nos acostumou nos últimos cinco anos a fazer coisas sobrenaturais'', por isso falam tanto da defesa argentina, porque ele “é diferente, faz coisas que ninguém faz nem fez”. Dias mais tarde, Demichelis (Manchester City) disse sorrindo, “não há nenhum Messi na defesa”.

E parece ser verdade, não sei se é sobrenatural, o que está claro é que é diferente, bonito, uma estranha forma de carinho pela bola. Mas muitos, entre os quais estou incluído, nos perguntamos se será este o Mundial da consagração, não como jogador, ele faz parte do planeta bola, mas sim da consagração interna, nacional, no seu país, na Argentina, no “potrero” onde os moleques correm com a camisa argentina com o seu nome estampado.

Quando a seleção argentina entrar em campo no domingo, 15 de junho, às 19h, será um dia especial, como disse há mais de duas décadas o slogan de uma rádio argentina: “Hoje não é um dia qualquer, hoje joga a seleção”. Por isso, as famílias argentinas se reunirão em frente à TV para ver o seu “país” jogar. E será pela TV.

Mas antes, muitos argentinos terão passado um dia em família, porque no país se comemora nesse domingo o “dia dos pais”, e como já ouvimos várias vezes nos últimos dias, o melhor “presente” seria um triunfo e estar no Maracanã. No mítico estádio haverá alguns argentinos, os que conseguiram ingressos em concursos – houve muitos – na venda tradicional ou na candonga e revenda, se fala de até 10 mil pesos (aproximadamente R$ 3200).

O que resta saber é se o Messi fará alguma coisa “sobrenatural” que o catapulte definitivamente como um herói argentino ou será mais um Mundial para o jogador. É uma dúvida, tomara se faça realidade e, no fim, a “Pulga” brilhe no campo do vizinho, do inimigo, da sogra. Até onde e em que campos pode brilhar, ainda é prematuro saber, mas já se sonha no país que no Maracanã (Bósnia), Mineirão (Irã) e Beira Rio (Nigeria), alguma coisa “sobrenatural” saia dos seus pés.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVargentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.