Planeta Copa

Arquivo : maio 2014

Basta uma geração dourada para o Chile surpreender?
Comentários Comente

UOL Esporte

O Carteiro da Ilha Negra*

Sem dúvida que este Mundial é vivido de maneira diferente no Chile. A efervescência provocada nos torcedores para conseguir ingressos e a grande quantidade de compatriotas que viajarão ao Brasil sem ter um ingresso deram a esse evento planetário um caráter muito diferente daquele da África do Sul.

E os motivos podem ser muitos. Para começar, a proximidade do país sede. É indubitável que viajar ao Brasil – não são poucos os que o farão de automóvel – é muito mais fácil do que ir ao continente africano. Além disso, é a primeira vez que o Chile se classifica para dois mundiais consecutivos. Mas, e nisto é preciso ser responsável, são milhares aqueles que pensam que o Chile poderá ser uma surpresa.

Há algo nesta geração que apela à ilusão. O momento de Alexis Sánchez no Barcelona, de Arturo Vidal na Juventus, de Charles Aránguiz no Internacional de Porto Alegre, de Eduardo Vargas no Valencia e de Gary Medel no Cardiff, só para citar alguns, faz que essa ilusão seja mais viva que nunca.

Muitos falam da geração dourada do futebol chileno. Uma geração que foi a base do terceiro lugar do Mundial sub 20 do Canadá, em 2007. Uma geração que se esqueceu dos triunfos morais e que sonha em ser campeã do mundo. Uma geração que joga em sua maioria nas grandes ligas da Europa. Uma geração que abandonou em idade precoce o futebol chileno para desenvolver-se longe de casa.

Isso basta para fazer um bom papel? Não. Mas ajuda. Austrália, Holanda e Espanha são os rivais a vencer. No papel, um grupo mais que complicado, no qual se brigará para avançar à fase seguinte com os finalistas da edição passada.

No entanto, o que foi exibido em amistosos contra potências (Inglaterra, Espanha, Alemanha e Brasil), a filosofia de jogo de Jorge Sampaoli e a mentalidade dos selecionados são motivos mais que suficientes para que um país inteiro mantenha viva a ilusão até que toque o apito em 13 de junho, dia em que o Chile ficará paralisado para ver a estreia de nossa seleção contra a Austrália.

*O Carteiro da Ilha Negra, pseudônimo do jornalista chileno que analisa a Copa 2014 para o UOL Esporte, é uma referência a Mario Jiménez, personagem da obra “O Carteiro e o Poeta”.


O Brasil ainda tem o melhor futebol do mundo?
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Tim Vickery

“O Brasil tem o melhor futebol do mundo” é uma frase que precisa ser repensada.

Talvez não pensando no futebol da seleção brasileira. Ninguém pode alcançar os cinco títulos mundiais do Brasil, que também é forte candidato a conquistar o hexacampeonato no dia 13 de julho. Mas “melhor do mundo”não pode se aplicar ao futebol dos clubes, conforme ficou comprovado na Copa Libertadores deste ano.

Na verdade, esse momento está chegando há algum tempo, escondido apenas por aqueles incapazes de lidar com a realidade pelo fato de clubes brasileiros terem vencido as últimas quatro edições da Libertadores até aqui.

A dominação deveria ser muito maior – existe um abismo financeiro entre os times do Brasil e os outros do resto do continente. No ano passado, por exemplo, a folha salarial de todo o time do Olimpia, do Paraguai, não seria o suficiente para pagar o salário de Ronaldinho Gaúcho, a estrela do Atlético-MG. E apesar disso, a diferença nunca ficou aparente quando os dois times se enfrentaram em uma final definida nos pênaltis.

Leia o texto completo no UOL Copa do Mundo


A um mês da Copa, o que esperar dela?
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Tim Vickery

Se me dessem uma máquina do tempo e a chance de voltar atrás e assistir a uma partida da Copa do Mundo no passado, minha escolha seria muito fácil de fazer: o jogo decisivo da Copa de 1950, o famoso “Maracanazo”, quando o Uruguai virou o jogo contra o Brasil em pleno

Maracanã e ficou com o título mundial, vencendo aquela final por 2 a 1.

Há várias razões para a minha escolha: uma das principais é pela qualidade do espetáculo. Jornalistas europeus que estiveram no Brasil para cobrir aquele torneio ficaram boquiabertos com o futebol jogado por Zizinho, a estrela da seleção brasileira à época. Eles nunca tinham visto nada assim antes. Junto com ele, tinha o pequeno Jair Rosa Pinto, com seu canhão de pé esquerdo, o centroavante Ademir, rápido e perigoso, e o “Príncipe” Danilo Alvim ditando o ritmo do meio-campo. Pelo Uruguai, havia a liderança de Obdulio Varela, o habilidoso ala Ghiggia, a elegância do atacante Schiaffino, e o heroico Maspoli no gol. Em termos de padrão de jogo, é difícil acreditar que até aquele ponto havia tido outro jogo de Copa do Mundo melhor do que esse.

Leia o texto completo no UOL Copa do Mundo


O modelo inglês e por que ele não serve para o futebol brasileiro
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Tim Vickery

Eu estava em uma visita rápida a Londres quando me chegou a notícia de que o Manchester United havia demitido o técnico David Moyes. No rádio, ouvi um boletim que citava a palavra “marca” três vezes em 10 segundos e depois tratava dos efeitos da novidade no preço das ações do clube, na Bolsa de Nova York.

Esse é um futebol completamente diferente daquele com o qual cresci, apesar de toda essa mudança já estar em curso quando me mudei para o Brasil há 20 anos. Uma indústria que antes era de pouco investimento e baixo lucro transformou-se em um monstro do entretenimento global. Naquela corda bamba em que o futebol caminha entre o “negócio” e a “cultura”, está claro de que lado o futebol inglês ficou.

O ponto da virada, o fundo do poço, foi certamente o desastre no estádio de Hillsborough, há 25 anos, quando 96 torcedores foram esmagados até a morte como consequência de uma operação incompetente da polícia. Nos 15 anos anteriores, os torcedores vinham causando tantos problemas de ordem pública, que a premissa básica de “controle de multidões” acabou esquecida: a mera presença de tantas pessoas em um espaço reduzido, por si só, passou a ser vista como uma ameaça para a segurança.

CLIQUE AQUI para conferir a matéria na íntegra.


Uma certa dose de realidade ajuda o ‘algo mais’ da Inglaterra
Comentários Comente

UOL Esporte

Por Dominic Fifield*

À primeira vista, nada mudou. As bandeiras estão sendo desdobradas e o pó retirado, os hinos dúbios, todos presumivelmente gravados em um ritmo de samba cativante. Os bares estão obtendo licença para ampliar o horário de funcionamento para que os torcedores ingleses possam assistir às transmissões ao vivo tomando uma cerveja. A seleção inglesa carrega novamente as esperanças da nação ao se aventurar na Copa do Mundo. Há otimismo, há expectativa, há empolgação mas, desta vez, também há algo mais. Realismo.

Se antes o time da Inglaterra, que chegou a uma única semifinal desde que conquistou a taça em casa em 1966, invariavelmente viajaria com muitos convencidos de que poderiam voltar campeões, desta vez são poucos que sonham tão alto. Ninguém antecipa a Inglaterra vencendo todas as partidas em Manaus, Belo Horizonte e São Paulo. Alguns se perguntam publicamente até mesmo se a equipe de Roy Hodgson passará da fase de grupos.

Afinal, há o clima a considerar, em particular a perspectiva de enfrentar a Itália na quente e úmida Amazônia, com lembranças ainda frescas do monopólio embaraçoso da posse de bola pela Azzurra contra a Inglaterra na Euro 2012, em Kiev. Também há a percepção de que as equipes europeias tendem a tropeçar na América do Sul, então por que seria a Inglaterra a mudar essa tendência em particular? E há o reconhecimento que a Inglaterra passa por um período de transição e, com toda honestidade, longe de demonstrar exuberância a esta altura. Tudo isso normalmente deixaria a nação um tanto apreensiva diante do que a espera, especialmente à medida que os fiéis que seguem The Three Lions (Os Três Leões), como regra, também não toleram a perspectiva de humilhação.

Mesmo assim há uma empolgação sobre o que virá no Brasil, tanto em relação ao próprio torneio quanto à participação da Inglaterra. Enquanto antes o futuro parecia tão sombrio após aquele empate sem gols e a eliminação nos pênaltis na Ucrânia há dois anos, toda a conversa de falta de surgimento de talentos locais e jogadores estrangeiros medianos demais entupindo os espaços na Premier League, agora há uma ansiedade por uma nova geração que deixe sua marca. Como que saindo do nada, Hodgson parece repleto de opções, principalmente no ataque. Há jogadores surgindo que parecem empolgar, atacantes com o tipo de habilidade e entusiasmo de arregalar os olhos normalmente associados aos talentos produzidos em série nos países latino-americanos. É tudo nervosamente encorajador.

Parte do ímpeto nasce do mesmo renascimento inglês sendo desfrutado por times como o Liverpool e Southampton nesta temporada. Estes clubes se organizaram em torno de um núcleo de jogadores ingleses a ponto de obrigar Hodgson a exigir ingressos de temporada para Anfield e St. Mary’s ao longo da Premier League. Em Merseyside, o capitão de sua seleção, Steven Gerrard, contribuiu para o progresso de Daniel Sturridge –o atacante produtivo– do enérgico meio-campista Jordan Henderson e do extravagantemente talentoso Raheem Sterling. No sul, há muito o que admirar nas incursões de Adam Lallana no meio campo, da história de Rickie Lambert, um artesão que conseguiu ser bem-sucedido, ou a ascensão de Luke Shaw como um lateral esquerdo galopante com um futuro imenso. O atacante Jay Rodriguez também disputaria a convocação, caso não tivesse rompido os ligamentos do joelho no início de abril, sendo obrigando a ficar fora de jogo por até seis meses para recuperação.

Estes são jogadores ingleses que prosperam em um campeonato nacional que, por muito tempo, esteve obcecado com o recrutamento no exterior em vez de fomentar seus próprios jogadores. Esses dois clubes têm atraído o foco, mas jovens brilhantes estão brotando por toda parte. No Everton há Ross Barkley, autor de um gol contra o Newcastle no mês passado digno de Paul Gascoigne. Jack Wilshere demonstrou lampejos de sua habilidade quando esteve livre de lesões no Arsenal, Danny Welbeck parece mais à vontade jogando pela Inglaterra do que no Manchester United, enquanto jogadores como Alex Oxlade-Chamberlain –autor de um gol no Maracanã no ano passado– Andros Townsend e Andy Carroll deixaram uma boa impressão. A próxima safra inclui Wilfried Zaha, Saido Berahino e Thomas Ince, atacantes que certamente deixarão sua marca no futuro próximo. Todos estes são jogadores tecnicamente hábeis, fortes e espertos, mas também com uma boa dose de talento.

A meia hora final da vitória da Inglaterra no amistoso contra a Dinamarca, em março, teve Shaw, Lallana, Sterling, Sturridge, Henderson, Oxlade-Chamberlein, Welbeck, Townsend e Chris Smalling, todos no banco de reserva. Lallana era o mais velho, com 25. Se a espinha dorsal da equipe de Hodgson em Manaus será experiente –de Joe Hart a Wayne Rooney, de Gerrard a Gary Cahill– e há preocupações na defesa, então aqueles que correm por fora ainda têm uma chance de brilhar. “Eu gosto de pensar no momento que o futuro parece relativamente promissor”, disse Hodgson. “Hoje nós temos mais alternativas do que tínhamos há um ano e muito mais flexibilidade com os jogadores que estão surgindo, o que nos dará uma chance de jogar com formações ligeiramente diferentes.”

A Inglaterra não deverá ser tão previsível quanto foi acusada em finais recentes. Ela poderá mudar seu jogo, caso queira uma maior velocidade e um jogo mais aberto, ou se precisar de mais habilidade pelo centro. A nação está intrigada para ver como a nova safra se sairá, ao mesmo tempo que reconhece que ela precisará de tempo para exibir suas qualidades. Esta Copa certamente será a última de Gerrard, Frank Lampard e Ashley Cole – se os últimos dois forem convocados– e a impressão que deixam será apreciada. Mas são os novos garotos no pedaço que estão atraindo atenção de fato e, desta vez, a Inglaterra conta com jogadores dignos de toda a empolgação.

Cinco ingleses para ficar de olho…

Ross Barkley
Idade: 20
Clube: Everton
Convocações: 3

Recuperado de uma séria fratura na perna e chegando à equipe principal do Everton, após se beneficiar com empréstimos ao Leeds e Sheffield Wednesday, ele iluminou seu time no final do ano passado, quando seu talento criativo ficou claro e lhe valeu o reconhecimento na Inglaterra.

Jack Wilshere
Idade: 22
Clube: Arsenal
Convocações: 15

Há muito considerado chave para o futuro da Inglaterra, ele viu sua carreira ser atormentada por lesões no tornozelo. Voltando no final de 2013 e exibindo lampejos de boa forma, ele foi novamente atrapalhado por uma fratura no pé. Um fintador com grande visão e movimentação na posse de bola, ele conta com forte arrancada. Precisa marcar mais gols e deve provar que está em forma antes de seguir para o Brasil.

Raheem Sterling
Idade: 19
Clube: Liverpool
Convocações: 2

Convocado pela primeira vez pela seleção inglesa em novembro de 2012, ele voltou à cena em 2013/2014 com algumas partidas magníficas como parte do tridente de ataque do Liverpool. Pequeno, mas rápido e hábil, ele tem marcado mais gols.

Daniel Sturridge
Idade: 24
Clube: Liverpool
Convocações: 10 (3 gols)

Igualou um recorde de clube quando marcou em oito partidas consecutivas durante a temporada 2013/2014 e agora está exibindo sinais de repetir o mesmo desempenho na seleção. Ele aprendeu com seus erros e com uma oportunidade perdida no Chelsea no início de sua carreira, mas é rápido, habilidoso e tem uma paulada com o pé esquerdo.

Adam Lallana
Idade: 25
Clube: Southampton
Convocações: 3

Um produto do sistema de academia do Southampton, ele é um meio-campista que representou o clube da League One (terceira divisão) até a Premier League. Um jogador consistente ao longo de toda a campanha 2013/2014 sob comando de Mauriccio Pochettino, ele aliou gols a uma visão criativa.

*Dominic Fifield é jornalista britânico baseado em Londres e escreve sobre futebol para os jornais “The Guardian” e “Observer”. No Twitter, @domfifield

Tradução: George El Khouri Andolfato


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>