Planeta Copa

Para a Argentina só vale a vitória. ‘Cueste lo que cueste’

UOL Esporte

Por Fernando Moura*

Chegar a semifinal de um Mundial após 24 anos, ainda mais no Brasil, é um fato histórico para a Argentina de Sabella e Messi e para os milhares de torcedores que estão peregrinando pelo país. O próximo adversário é duro. É a Holanda de Robben, a Holanda da Rainha Máxima, também argentina que estará na arquibancada, a Holanda de jogo rápido e bonito.

Como já dissemos em crônicas anteriores, a história desta Copa do Mundo é a história das migrações temporárias, as migrações de milhares de argentinos rumo ao Brasil. O êxodo começou no início de junho rumo ao mítico Maracanã, no Rio de Janeiro. Viajou para Belo Horizonte em Minas Gerais, lotando o Mineirão. Depois a última romaria da primeira fase foi para sul, em Porto Alegre. Na capital gaúcha, a enchente argentina superou todas as expectativas com milhares tomando ruas, praças, campings, hotéis e todo o espaço possível numa cidade amiga, semelhante às argentinas, como muito “asado/churrasco”, “mate/chimarrão” e “fernet com cola”, e claro, com uma vitória contra a Nigéria.

Cumprida a missão da primeira fase. Três vitórias em três jogos, os torcedores argentinos rumaram para a imensa São Paulo. Mais uma vez ocuparam a cidade, mas desta vez foi mais discreto. Ser “local” na maior metrópole da América latina é impossível. Foi sofrido contra a Suíça. Já em Brasília, a Capital Federal, foi conquistada com música, bombo, muita garganta e uma boa vitória contra a Bélgica nas quartas de final.

Agora a tropa, em um tremendo road-movie, está chegando a São Paulo para uma nova semifinal de Mundial, uma partida com a poderosa Holanda mais de duas décadas depois da final de 1978, quando muitos desses romeiros ainda não tinham nascido.

Os enfrentamentos entre a laranja mecânica da década de 1970 e a Argentina foram memoráveis, pelas alegrias e desventuras. Os números são desfavoráveis para Argentina. Começaram em 1974 com dois encontros, amistoso 4 a 1 para Holanda e, no Mundial da Alemanha, 4 a 0, com um Cruyff inspirado.

De oito confrontos, uma vitória por 3 a 1 na prorrogação com um Mário Kempes iluminado na final do Mundial de 1978, na Argentina – quatro derrotas e três empates. Em mundiais, a Holanda, como os números anteriores revelam, é superior, duas vitórias, um empate e uma derrota, mas esta ocorreu justamente na final da Copa do Mundo.

De todas as vitórias holandesas, a mais importante é a da Copa da França, 2 a 1 em Marselha pelas quartas de final, com um gol magistral de Bergkamp. O último confronto foi na Alemanha, em 2006, com os dois times qualificados para as oitavas de final. Foi um empate por 0 a 0 e a qualificação em primeiro lugar para Argentina.

O jogo desta quarta-feira, no Itaquerão, em São Paulo é desses jogos que há que ganhar, que há que vencer, como disse a torcida, “cueste lo que cueste”, sobretudo porque o Brasil está fora da final e porque ganhar um título no Brasil seria inolvidável. E, claro, estar no Maracanã sem o Brasil pareceria sinônimo de ser local.

Se a Argentina passar a Holanda, outra vez cruzará com a Alemanha, como no México 86, ganhando por 3 a 2, e na Itália 90, derrotada 1 a 0. O que poderá acontecer na final, e quem acompanhará a Alemanha, é imprevisível. O que está claro é que o jogo entre a Argentina e a Holanda será difícil, corrido, de muita perna e onde o posicionamento tático será fundamental para definir um vencedor.

A Argentina, como disse Sabella na pré-temporada realizada em Ezeiza antes do Mundial, “não tem mistério no esquema tático. Até em Júpiter o conhecem''. A Holanda abusará da rapidez de Robben e, assim, o jogo se definirá por pequenos e grandes pormenores, técnicos e táticos. Mas, se a equipe de Messi passar, se o Messi brilhar, quem conterá a avalanche argentina na Cidade Maravilhosa? Parece-me que a esta altura do campeonato, ninguém, nem mães, nem esposas, nem filhos, porque “cueste lo que cueste, hoy tenemos que ganar”.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVs argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.