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Rooney precisa fazer pela Inglaterra o que faz na Inglaterra

UOL Esporte

Por Dominic Fifield*

A expectativa de uma nação foi abordada por Roy Hodgson assim que a Premier League entrou em sua fase final. ''Talvez, uma ou duas vezes no passado, ele não explodiu no cenário mundial como no nacional, onde todos nós o aceitamos com um jogador extraordinário'', disse o técnico da Inglaterra enquanto contemplava o impacto potencial de Wayne Rooney na Copa do Mundo que se aproxima. ''Mas haverá uma oportunidade para ele mostrar no Brasil que não é apenas um grande astro da Premier League, mas um astro mundial. A mensagem para ele é: 'Esta é a sua chance'.''

O desafio não poderia ser mais claro. A seleção nacional esperou demais por Rooney, um de seus principais talentos, ter um impacto positivo em um grande torneio e, aos 28 anos, seu tempo está se esgotando. Assim como a paciência de algumas pessoas. O atacante pode realizar campanhas iluminadas regularmente pelo Manchester United, e permaneceu como um dos principais destaques mesmo na primeira temporada traumática desde a saída de sir Alex Ferguson de Old Trafford, mas ele deixou a desejar em grandes competições internacionais desde sua notável contribuição aos 18 anos na Euro 2004.

Rooney foi expulso na partida em que Portugal eliminou a Inglaterra na Copa do Mundo de 2006, e esteve irreconhecível em suas apresentações infelizes na África do Sul, quatro anos depois. Sua suspensão por chutar um jogador de Montenegro nas eliminatórias da Euro 2012 fez com que ele perdesse os dois primeiros jogos antes de outro desempenho decepcionante na partida contra a Itália, que eliminou os rapazes de Hodgson da competição. A narrativa se tornou familiar demais, com apresentações brilhantes ao longo das campanhas classificatórias –ele foi o principal artilheiro no Grupo H, com sete gols – apenas para apresentações medíocres quando chega a hora dos torneios.

O atacante tende a se ressentir quando se sente incapaz de dar seu melhor. Quando a boa forma o abandona, seu humor escurece. A África do Sul foi o ponto mais baixo, quatro partidas jogadas sob uma nuvem de questões pessoais não resolvidas em casa e arrematadas por uma explosão diante de uma câmera de televisão, após um desanimador empate sem gols com a Argélia na Cidade do Cabo. Um jogador com 38 gols em 89 partidas pela seleção deveria ser um talismã, mas ele ainda tem muito a provar para seu país. Mesmo a Nike, que lhe paga generosamente para vestir suas chuteiras, fez um filme em sua mais recente campanha publicitária sobre Rooney nunca ter marcado um gol em uma Copa do Mundo.

Ao menos o próprio jogador também reconhece que sua hora tem que ser agora. ''Isso é o que quis fazer em todos os outros torneios e não aconteceu'', ele disse. ''Mas sempre fui determinado, sempre quis jogar bem e quis ajudar a Inglaterra a ser bem-sucedida. Logo, nada mudou. Eu não vou colocar nenhuma pressão adicional sobre mim mesmo, mas quero jogar bem e isso é o que todos nós acreditamos que podemos fazer, então é o que faremos.'' A esperança é que agora ele esteja mais sábio, até mesmo mais ávido que nunca em provar sua qualidade. Certamente há uma aceitação de que a Inglaterra, já considerada um azarão a causar qualquer impacto no Brasil, só se classificará em um grupo difícil se Rooney realmente jogar o que sabe. Em sua nova parceria com Daniel Sturridge, uma dupla que apenas exibiu lampejos de entrosamento, está a esperança da Inglaterra. O meio-campo é abastecedor, as laterais nunca se mostraram tão fortes. Os atacantes deveriam estar animados com o torneio que se aproxima.

Confira os convocados da seleção inglesa
  • Clive Rose/Getty Images
    Goleiros
    Joe Hart (foto), Fraser Forster e Ben Foster
  • Clive Brunskill/Getty Images
    Defensores
    Glen Johnson, Phil Jones (foto), Gary Cahill, Phil Jagielka, Chris Smalling, Leighton Baines e Luke Shaw
  • Richard Heathcote/Getty Images
    Meias
    Steven Gerrard (foto), Jack Wilshere, Jordan Henderson, Frank Lampard, James Milner,Ross Barkley, Adam Lallana
  • Alastair Grant/AP
    Atacantes
    Raheem Sterling, Alex Oxlade-Chamberlain, Wayne Rooney (foto), Daniel Sturridge, Danny Welbeck e Rickie Lambert

Logo, tanto física quanto psicologicamente, Rooney estará pronto, mesmo após uma campanha doméstica inglesa rigorosa? Esta foi uma campanha lamentável para o United, com os nove meses de David Moyes como substituto de Ferguson interrompidos abruptamente no final de abril, com sua demissão pelo clube diante da realidade de sua pior classificação na Premier League renovada e, com isso, o choque de ficar fora da Liga dos Campeões e até mesmo da Liga da Europa na próxima temporada. Isso é inaceitável. Rooney continua sendo o principal artilheiro na liga, um jogador cuja forma às vezes carregou o time, mesmo que esta também não tenha sido sua melhor temporada.

Houve um frenesi de especulação no ano passado, com o Chelsea aspirando atrair o jogador para Londres e sua abordagem linha-dura nas negociações com o United lhe garantindo em fevereiro um novo contrato de cinco anos e meio, no valor de 300 mil libras por semana. Por ora, isso fez com ele desse o melhor de si. Uma pausa de um mês para reabilitação de uma lesão lhe ofereceu espaço para respirar, mas logo voltou a enxurrada habitual de preocupação: ele jogou contra o Bayern de Munique nas quartas de final da Liga dos Campeões com uma lesão no dedão do pé, com seu desconforto aliviado apenas temporariamente por uma injeção de analgésico que, assim como reduziu a dor, reduziu seriamente o desempenho de Rooney.

Mais recentemente, uma lesão na virilha deixou Hodgson desconfiado. O atacante não participou da derrota de sua equipe para o Sunderland – a sétima derrota em casa do United na temporada– em maio, enquanto tratava a lesão, com preocupação sendo expressada pelo estado de sua forma física. O técnico da Inglaterra só levará jogadores em condições plenas para a Copa, mas Rooney é a exceção: se ele ainda estiver com dores na virilha, mesmo assim ele participará, tamanha é sua importância para a equipe.

Rooney claramente não está plenamente em forma. Ele costuma demorar mais para retornar de problemas desse tipo do que os prognósticos iniciais sugerem. Famosamente, quando Rooney se machucou contra o Bayern há quatro anos, antes da Copa do Mundo na África do Sul, Ferguson disse após a partida que não era nada sério e que esperava que ele estaria ''disponível na próxima semana''. Mas ele demora a retornar à sua melhor forma e deixá-lo de fora também não resolve. Rooney precisa de tempo para redescobrir seu melhor após voltar de uma pausa. ''Sempre que ele fica fora algumas poucas semanas por uma lesão'', escreveu Ferguson em sua autobiografia, ''Wayne perde sua forma rapidamente''. Ele é um jogador que precisa do ritmo e regularidade que se consegue apenas jogando.

Isso faz a Inglaterra transpirar de preocupação. ''Sim, ele estará um pouco cansado quando formos (para o Brasil), assim como Luis Suárez, David Luiz e vários outros jogadores, porque também estavam jogando na Premier League'', disse Hodgson. ''Wayne tem 28 anos, é uma idade excelente, e este é o palco mundial. É a oportunidade perfeita para ele provar às pessoas de todo o mundo o que já sabemos –que ele é um jogador muito, muito dotado, um jogador completo, capaz de atuar em muitas posições e alguém capaz de liderar sua equipe, que é uma das melhores do mundo. Será bom vê-lo reproduzindo essa forma pela Inglaterra e estou confiante de que ele o fará.''

O páis está realista a respeito das chances da Inglaterra. Mas, quando se trata do atacante no qual regularmente depositaram suas esperanças, a expectativa é grande.

*Dominic Fifield é jornalista britânico baseado em Londres e escreve sobre futebol para os jornais “The Guardian” e “Observer”. No Twitter, @domfifield

Tradução: George El Khouri Andolfato