Parece que é pedir muito para a Alemanha vencer no Brasil
UOL Esporte
Por Susie Schaaf*
Quando o Grupo G foi anunciado – Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Gana -, muitos o consideraram difícil para os alemães, mas totalmente administrável. O consenso no país não era “será que a ‘Mannschaft’ vai passar?”, mas sim quem passaria em segundo lugar, atrás dela. Mas, depois que tantos jogadores-chave perderem sua posição por estarem lesionados ou recém-recuperados, Joachim Löw assume o leme de seu quarto grande torneio com opções perigosamente escassas em algumas posições muito importantes.
Só Miroslav Klose, da Lazio, foi convocado na função de autêntico atacante. E o veterano Klose, de 35 anos, perdeu muitos jogos da temporada da Série A, só conseguindo fazer oito gols e cinco assistências.
Não quer dizer que Klose tenha perdido o rebolado, mas a marcha inevitável do tempo o está alcançando. Com o mesmo número de gols marcados pela Alemanha que o “der Bomber” Gerd Mueller – 68 – ele está apenas a dois de ultrapassar o recorde do brasileiro Ronaldo pela seleção brasileira. Löw está assumindo um risco ao incluí-lo, mas a recompensa – caso o veterano consiga jogar – será espetacular.
Se estivéssemos falando apenas da posição de atacante, talvez não fosse um problema muito grande, mas olhando um pouco mais atrás, é lá onde estão os verdadeiros problemas que, sanados, serão soluções fantásticas. Lahm, Schweinsteiger e Khedira se recuperaram fisicamente ou de lesões apenas durante a fase de preparação. Sem um deles, a Alemanha começaria com Toni Kroos, do Bayern de Munique, e Christoph Kramer, do Borussia Moenchengladbach, no meio campo. O primeiro não tem uma verdadeira mentalidade de defesa, enquanto o último tem apenas um jogo pela seleção.
Minimizando a possível perda de jogadores-chave, Löw e o diretor geral Oliver Bierhoff preferiram instituir uma necessidade de “espírito de equipe”. Eis um exemplo: na concentração na Bahia, local de treinamento no Brasil, os jogadores ficarão em seis em cada quarto – promovendo a camaradagem na delegação.
“Sempre que vamos a um torneio chegamos lá com a intenção de ganhar, independentemente da situação da equipe”, disse Löw em entrevista recente. E parece que neste momento as peças-chave Neuer, Lahm, Khedira e Schweinsteiger estão prontos para contribuir.
A revolução da Alemanha até chegar a seu estilo moderno de futebol começou em 2000, depois que a seleção foi chutada da Eurocopa naquele verão em um grupo que tinha a Inglaterra, Romênia e Portugal. E embora ela tenha chegado à final da Copa do Mundo de 2002 contra o velho inimigo Brasil – perdendo de 2 a 0 – mudanças amplas em todo o seu sistema futebolístico estavam em andamento. Essas mudanças ainda não dariam frutos na Eurocopa de 2004, quando a Alemanha foi novamente mandada para casa depois da etapa dos grupos com a República Tcheca e a Holanda à sua frente, mas as coisas começaram a mudar para a seleção alemã em 2006.
Talvez isso tenha se dado porque a Alemanha era anfitriã do torneio, ou talvez porque o técnico na época, Juergen Klinsmann, com seu assistente Löw, tomaram decisões ousadas em relação à equipe nos dois anos anteriores, mas a jovem seleção alemã – que ninguém achava que faria alguma coisa – conseguiu ficar em terceiro.
A Eurocopa de de 2008 viu a Alemanha perder por pouco da Espanha, 1 a 0, na final, e mais uma vez dois anos mais tarde na semifinal na África do Sul, eventualmente ficando em terceiro lugar. O ano de 2012 teve a Alemanha no mesmo terceiro lugar depois de perder a semifinal para a Itália.
Embora o sistema juvenil da Alemanha esteja firmemente estabelecido – com muitos jovens talentosos fazendo carreira, prontos para assumir os lugares dos mais velhos ou mal condicionados, a Copa de 2014 no Brasil deveria ter sido o momento para a Alemanha brilhar. E ainda pode ser, se Löw conseguir encontrar uma forma de unir sua equipe de jovens talentosos e veteranos lendários. Mas isso é pedir muito jogando na América do Sul — onde nenhuma equipe europeia venceu um torneio — e no Brasil… contra o Brasil e a seleção empolgante de Luiz Felipe Scolari.
Susie Schaaf é jornalista alemã e escreve para o ESPN FC, BBC e outros veículos especializados em futebol.