Planeta Copa

Arquivo : julho 2014

Argentina volta à elite fazendo final na ‘casa da sogra’
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

E a Argentina chegou à final na casa da sogra. E pior. Sem a sogra na sala de visitas para nos receber, não é a dona da casa que estará também lutando pelo posto de melhor do mundo. Talvez por isso que, como em quase toda família, a sogra agora se volte contra nós. Os mesmos que tão bem nos receberam e cantaram conosco durante todo esse mês de jornada.

Não importa. Já valeu. Chegar a uma final na casa da sogra não seria um evento corriqueiro mesmo se a sogra estivesse em campo. É coisa que acontece, quiçá, a cada 100 anos. E quem vai estar ali diante de nós, na pelea, é a poderosa e pragmática Alemanha. Esse fato, sim, podemos chamar até de corriqueiro.

Após 24 anos, uma nova final contra a Alemanha, a terceira. Até agora, foram duas, 3 a 2 no México 86, e 0 a 1 na Itália, em 90. Desde aquela final, a alviceleste não ultrapassava as quartas de final. Esta não será a final desejada pelos fanáticos argentinos que estão no Rio de Janeiro, que estão em cada canto da Argentina e do mundo olhando o mítico Maracanã e sonhando com que Lionel Messi levante no Brasil a Copa do Mundo. O dono da casa teria que estar em campo para tudo ser perfeito.

Como parte da história desta Copa, da história dos torcedores argentinos migrantes por terras brasileiras, este que vos escreve se emocionou em Porto Alegre após o 3 a 1 no dia 25 de junho, e chorou como uma criança nos pênaltis contra a Holanda na última quarta-feira (9 de julho, dia da Independência Argentina) após ganharmos o passe final para o Maracanã.

O jogo sofrido no Itaquerão contra uma conservadora e cautelosa Holanda talvez tenha sido o início de um novo paradigma no futebol argentino. Ali acordamos para uma nova seleção. Igualmente boa e merecedora do lugar que já conquistou entre as duas melhores do mundo. Mas uma seleção sem Maradona. Começou uma nova etapa na qual “El Pibe” já não está presente, nem como jogador (86 e 90), nem como treinador (2010).

O paradigma que nasceu em São Paulo é um paradigma inovador, a junção da garra, entrega e até loucura pela bola do Mascherano, Zabaleta, Demichelis, Enzo Perez e Lavazzi, e a magia de Lionel Messi, de Ángel Di María, que mesmo não estando no campo também escreveu a história até ali.

A nova etapa não teve, claro, as façanhas históricas de 1986 e 1990, mas sim a paciência de um time guerreiro e que nunca foi vencedor. E claro, momentos de inspiração e magia de Lionel Messi para ganhar jogos fechados como contra o Irã, na primeira fase da competição. Um Messi que neste domingo, 13 de julho, terá no seu terceiro Mundial a possibilidade de erguer a Copa do Mundo e com a mesma idade do seu ídolo, Diego Armando Maradona, coroar-se campeão do Mundo. Um Messi que se iluminar a sua lâmpada pode brilhar e ser o melhor desta Copa. Um Messi que até pode ser artilheiro desta competição.

Deixando os “se”, o que pode acontecer na final contra a Alemanha não é uma incógnita. Mais uma vez será um jogo onde um pormenor poderá definir a história. Onde uma jogada magistral poderá mudar o rumo do jogo. Onde a máquina alemã sairá a campo com a vantagem mental de ter goleado o Brasil em casa, e com o Maracanã a torcer a seu favor.

E onde desde a arquibancada os poucos argentinos privilegiados que possam entrar – haverá muitos mais, diria milhares mais fora – poderão desde lá apoiar um time que mudou o curso da história e devolveu à Argentina o seu lugar no mundo da bola, um lugar entre os grandes. Um lugar onde o paradigma do futebol e o jogo bonito são importantes, mas que, além disso, é preciso ter uma boa defesa, ter jogadores que correm, que tem rigor tático e, sobretudo, tem alma e coração, coisa que o time do Alejandro Sabella parece ter até demais.

A final no Maracanã é para ser jogada, mas sobretudo para ser desfrutada. Carpe Diem e bem haja pelo futebol e pela hipótese que como torcedor ter sido parte desta história, a história dos migrantes argentinos nesta Copa do Mundo.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TV argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Menos nacionalismo, mais ideias de Cruyff à seleção brasileira
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UOL Esporte

Por Tim Vickery *

Quando Johan Cruyff fala sobre futebol, você fica quieto e ouve – a não ser que você não tenha interesse no assunto – ou é um idiota.

Infelizmente, existem algumas pessoas que parecem estar nessa última opção. Cruyff, como jogador, treinador e pensador, é uma das vozes mais brilhantes e influentes deste jogo.

O holandês é a cabeça por trás do modelo de jogo do Barcelona – indiretamente, é, em partes, arquiteto da inacreditável derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 na semifinal (os alemães assimilaram com sucesso vários aspectos do jogo do Barcelona de Pep Guardiola, pupilo de Cruyff, agora comandando o Bayern de Munique – uma série de ideias progressistas do futebol que podem ser seguidas sem parecer ter qualquer participação brasileira).

Leia a matéria completa no UOL Copa do Mundo


Para a Argentina só vale a vitória. ‘Cueste lo que cueste’
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

Chegar a semifinal de um Mundial após 24 anos, ainda mais no Brasil, é um fato histórico para a Argentina de Sabella e Messi e para os milhares de torcedores que estão peregrinando pelo país. O próximo adversário é duro. É a Holanda de Robben, a Holanda da Rainha Máxima, também argentina que estará na arquibancada, a Holanda de jogo rápido e bonito.

Como já dissemos em crônicas anteriores, a história desta Copa do Mundo é a história das migrações temporárias, as migrações de milhares de argentinos rumo ao Brasil. O êxodo começou no início de junho rumo ao mítico Maracanã, no Rio de Janeiro. Viajou para Belo Horizonte em Minas Gerais, lotando o Mineirão. Depois a última romaria da primeira fase foi para sul, em Porto Alegre. Na capital gaúcha, a enchente argentina superou todas as expectativas com milhares tomando ruas, praças, campings, hotéis e todo o espaço possível numa cidade amiga, semelhante às argentinas, como muito “asado/churrasco”, “mate/chimarrão” e “fernet com cola”, e claro, com uma vitória contra a Nigéria.

Cumprida a missão da primeira fase. Três vitórias em três jogos, os torcedores argentinos rumaram para a imensa São Paulo. Mais uma vez ocuparam a cidade, mas desta vez foi mais discreto. Ser “local” na maior metrópole da América latina é impossível. Foi sofrido contra a Suíça. Já em Brasília, a Capital Federal, foi conquistada com música, bombo, muita garganta e uma boa vitória contra a Bélgica nas quartas de final.

Agora a tropa, em um tremendo road-movie, está chegando a São Paulo para uma nova semifinal de Mundial, uma partida com a poderosa Holanda mais de duas décadas depois da final de 1978, quando muitos desses romeiros ainda não tinham nascido.

Os enfrentamentos entre a laranja mecânica da década de 1970 e a Argentina foram memoráveis, pelas alegrias e desventuras. Os números são desfavoráveis para Argentina. Começaram em 1974 com dois encontros, amistoso 4 a 1 para Holanda e, no Mundial da Alemanha, 4 a 0, com um Cruyff inspirado.

De oito confrontos, uma vitória por 3 a 1 na prorrogação com um Mário Kempes iluminado na final do Mundial de 1978, na Argentina – quatro derrotas e três empates. Em mundiais, a Holanda, como os números anteriores revelam, é superior, duas vitórias, um empate e uma derrota, mas esta ocorreu justamente na final da Copa do Mundo.

De todas as vitórias holandesas, a mais importante é a da Copa da França, 2 a 1 em Marselha pelas quartas de final, com um gol magistral de Bergkamp. O último confronto foi na Alemanha, em 2006, com os dois times qualificados para as oitavas de final. Foi um empate por 0 a 0 e a qualificação em primeiro lugar para Argentina.

O jogo desta quarta-feira, no Itaquerão, em São Paulo é desses jogos que há que ganhar, que há que vencer, como disse a torcida, “cueste lo que cueste”, sobretudo porque o Brasil está fora da final e porque ganhar um título no Brasil seria inolvidável. E, claro, estar no Maracanã sem o Brasil pareceria sinônimo de ser local.

Se a Argentina passar a Holanda, outra vez cruzará com a Alemanha, como no México 86, ganhando por 3 a 2, e na Itália 90, derrotada 1 a 0. O que poderá acontecer na final, e quem acompanhará a Alemanha, é imprevisível. O que está claro é que o jogo entre a Argentina e a Holanda será difícil, corrido, de muita perna e onde o posicionamento tático será fundamental para definir um vencedor.

A Argentina, como disse Sabella na pré-temporada realizada em Ezeiza antes do Mundial, “não tem mistério no esquema tático. Até em Júpiter o conhecem”. A Holanda abusará da rapidez de Robben e, assim, o jogo se definirá por pequenos e grandes pormenores, técnicos e táticos. Mas, se a equipe de Messi passar, se o Messi brilhar, quem conterá a avalanche argentina na Cidade Maravilhosa? Parece-me que a esta altura do campeonato, ninguém, nem mães, nem esposas, nem filhos, porque “cueste lo que cueste, hoy tenemos que ganar”.

Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TVs argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


Ah, como era boa a minha Copa
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UOL Esporte

Por Tim Vickery*

Um compatriota meu escreveu um artigo no jornal Lance! antes da Copa do Mundo de 2014 argumentando que os Mundiais antigos eram melhores. É uma opinião perfeitamente respeitável; os torneios anteriores tinham um charme ingênuo que jamais será retomado.

Mas a justificativa dele expõe uma falha comum no pensamento europeu. As velhas Copas do Mundo, ele disse, eram melhores porque menos países participavam e eles ficavam mais próximos das pessoas.

A contradição é impressionante, mas muitos dos meus compatriotas caem nessa. A questão óbvia é: as Copas do Mundo antigas eram mais próximas de que pessoas? Certamente não dos asiáticos ou africanos.

Leia a matéria completa no UOL Copa do Mundo


‘Decime que se siente’ em participar da festa da Argentina
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UOL Esporte

Por Fernando Moura*

A migração argentina continua. A onda azul e branca veio do sul como uma onda polar comum no inverno brasileiro, chegou ao Brasil, foi até o Rio de Janeiro, recuou para Belo Horizonte e Porto Alegre e agora está chegando a São Paulo para mais uma vez fazer barulho empurrando a seleção da Argentina contra a Suíça no Itaquerão.

Na primeira coluna do Planeta Copa falamos que talvez este seria o Mundial da participação cidadã. Porque muitos argentinos deveriam vir ao Brasil para sentir o clima, sentir como é possível ser “local” na terra do vizinho, cruzando a fronteira de bandeira em punho não para conquistar, mas sim para ganhar. É isso está se concretizando.

Estive em Porto Alegre na última quarta-feira, 25 de junho de 2014. Aos 41 anos sou um homem de muito futebol e muitas viagens mundo afora pela bola, como torcedor, como jornalista e como produtor geral de transmissões da Fifa, mas a sensação da manhã de quarta em Porto Alegre vai ficar guardada na memória.

Foi uma manhã, uma tarde, uma noite de participação popular, de participação cidadã que tomou conta dos argentinos e de muitos habitantes da capital gaúcha que saíram às ruas para ver, participar e até comemorar a alegria de um povo irmão.

O acolhimento do povo gaúcho me marcou. Paz, harmonia e muita admiração pela horda simpática e musical que tomou a cidade. Argentinos dormindo nas ruas, em praças, em carros, em postos de gasolina, na rodoviária, no aeroporto, onde fosse possível. Eram argentinos que queriam participar da festa. Participaram, e como. Às 3 da madrugada as ruas da cidade velha estavam lotadas de argentinos cantando e saltando…

Descrever o fenômeno é difícil por dois motivos: pelo tamanho dele, porque, volto a confessar, fui tomado pela paixão e a força de um povo feliz pela vitória e, sobretudo, por “participar”.

Esta talvez seja a maior migração da história ao país vizinho. Migração temporária, mas que ficará na memória de muitos argentinos, e claro, de muitos gaúchos. Dizem os estudiosos das migrações contemporâneas que o ato de emigrar é parte de um sonho coletivo, familiar. Que se emigra por esperança, por laços familiares, por redes sociais. Se emigra como parte de uma planificação que tende a melhorar a vida.

Tudo isso pareceu que esteve implícito em Porto Alegre. Milhares de gaúchos argentinos tomaram por assalto a capital gaúcha brasileira. Um assalto simbólico, uma migração curta, mas duradora na alma de muitos e muitas.

O fenômeno não é simples. Este é um movimento que se foi criando no inconsciente coletivo dos argentinos desde que foi anunciado que o Mundial seria no Brasil, na casa da sogra. Um sonho que, como o futebol, está envolvido de pura paixão, e que ainda acontece ao lado, no país vizinho.

O futebol na Argentina se sente no sangue, na pele, faz parte do dia-a-dia das pessoas, das famílias, dos grupos de amigos. Por isso neste Mundial as histórias de migrações temporárias se multiplicam por milhares e são fantásticas. Desde gente que chegou de bicicleta até quem viajou 4000 quilômetros de carona. Desde sujeitos que deixaram as suas mulheres após a lua-de-mel e outros que tentaram salvar o namoro pedindo em casamento as suas “ex-namoradas” pela TV.

Tudo isso porque o importante é participar. É estar com ou sem ingresso – a esmagadora maioria sem. É cruzar a fronteira e fazer parte da festa, da festa do futebol. E, como Argentina ganhou, passou às oitavas de final com Messi brilhando, muitíssimos, dentro e fora do Beira-Rio se ilusionaram, começaram a imaginar ver o quarteto de ataque argentino despontando para uma linda exibição nesta terça-feira, 1º de julho, no Itaquerão.

E por isso, a migração argentina agora está se dirigindo para o Sudeste, para São Paulo. Uma migração pacífica, mas barulhenta, com muita gente sem ingressos, mais uma vez a esmagadora maioria, mas com fé, com bombo e muita garganta, porque como diz a música… “decime que se siente tener en casa a tu papa!” O que acontecerá, como segue o road movie e a caravana é difícil de imaginar, o que se pode vaticinar é que se passar as quartas, ela continuará rumo a capital, rumo a Brasília, e sabe Deus até onde poderá rumar. O que este jornalista pode pressupor, se é que lhe é permitido inferir a um jornalista, é que a paixão não vai parar…

*Fernando Carlos Moura, nascido em Escobar, província de Buenos Aires, é jornalista desde 1990. Trabalhou em diversas rádios, jornais e emissoras de TV argentinas. Na Europa, trabalhou na SIC, TVI e RTP2 de Portugal e cobriu diversos campeonatos internacionais pela MediaPro/MediaLuso na Europa e no Golfo Pérsico.


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