Rússia tem longa e difícil estrada para casa
UOL Esporte
Por Evgeny Klyopov*
A Copa do Mundo no Brasil será especial para muitas equipes. Mas entre elas há uma com expectativas muito particulares. Está será a segunda Copa da Rússia nos últimos 20 anos, após o desempenho caótico na Coreia do Sul e Japão. É muito importante para a seleção voltar a se destacar, já que o próximo Mundial será realizado em seu território. Além disso, é a última chance para que toda uma geração teste a si mesma no nível mais elevado do futebol mundial.
O maior problema para a seleção russa está no miolo da zaga. Tanto Sergey Ingnashevich (34 anos) quanto Vasily Berezutsky (31) integraram o sistema defensivo do CSKA em 2005, quando a equipe de Moscou, com Daniel Carvalho e Vagner Love no ataque, conquistou a Copa da Uefa, hoje Liga Europa. Ainda não há alternativa para eles, apesar de Fabio Capello estar à procura de seus sucessores.
Duas importantes figuras no meio campo correram risco de ficar fora da seleção até a Copa em casa. Eles são os ex-líderes do Zenit de São Petersburgo: o volante destruidor Igor Denisov (29) e o meia armador criativo Roman Shirokov (32). Este último teve uma briga séria com o treinador Luciano Spalletti no vestiário. Para sorte de Capello, o Zenit decidiu não manter o jogar no banco. Agora Shirokov marca e faz assistência pelo azarão da primeira divisão russa, o FC Krasnodar, criando chances para o melhor goleador na história do clube, Wanderson.
O fenomenal terceiro lugar na Euro 2008 permitiu a vários jogadores russos jogarem no exterior, principalmente na Inglaterra. Mas quase todos eles sentiram a enorme diferença entre as duas ligas e rapidamente voltaram para casa. Agora, Yuri Zhirkov (30) é o único representante daquela onda na seleção. E por último, Alexander Kezhakov, geralmente o atacante solitário no esquema de Capello, também cruzou a fronteira dos 30 anos.
Todos esse jogadores conhecem a alegria de grandes vitórias nos clubes (o Zenit também conquistou a Liga Europa) e na seleção (a mencionada semifinal da Euro). Mas a Copa do Mundo não é o torneio mais romântico do futebol, aquele que é sempre lembrado com o passar dos anos? É aí onde o entusiasmo e paixão dos jogadores são testados. Última chance, última esperança.
Por outro lado, a Copa do Mundo no Brasil será uma possibilidade real para os novatos provarem seu valor. A Rússia precisa de novos heróis e líderes, como é evidente, pois o Mundial de 2018 será o momento da nova geração. É interessante que os membros jovens da atual seleção venham quase todos não do CSKA ou do Zenit, que foram as principais fontes de jogadores para a seleção por uma década. O lateral esquerdo Dmitri Kombarov, juntamente com meio campista Denis Glushakov, são do Spartak de Moscou. O protegido de Capello, Alexander Kokorin, um sujeito com cara de Justin Bieber e talento para marcar gols como Luis Suarez, é que determina o ritmo de jogo no Dínamo de Moscou.
Mais um astro da nova geração, Alan Dzagoev do CSKA, é a pessoa mais contraditória desta lista. Logo após sua estreia aos 18 anos com meio campista, ele já era considerado por Roman Abramovich como possível substituto de Frank Lampard no Chelsea. Atualmente Dzagoev é um jogador maduro e multifuncional, mas ainda é um que não consegue controlar bem sua raiva. Alan recebeu 3 cartões vermelhos bem merecidos nas duas últimas temporadas, que resultaram em várias partidas de suspensão. Se Neymar é conhecido por suas simulações a ponto de ter sido até mesmo parodiado nos ''Simpsons'', Dzagoev se transformou no exemplo oposto de comportamento indecente.
Ao todo, a mistura de atletas experientes e jovens promissores promete um desempenho imprevisível da seleção russa no Brasil. Fabio Capello já fez todos se acostumarem ao futebol racional e pragmático, ensinou os torcedores a amarem vitórias modestas, mas calculadas. Em junho, ele terá que preparar mais uma lição –fazer todos seus jogadores jogaram com o coração. Com corações que sejam sempre jovens, independente da idade.
Evgeny Klyopov é editor do Total Football e chefe do departamento analítico do InStat. No Twitter, @dracodino
Tradução: George El Khouri Andolfato